quinta-feira, outubro 11, 2007

Chico Antônio como sopro inspirador

"Chico Antônio foi muito importante, não apenas por ter sido descoberto por Mário de Andrade. Muita gente usa esse ‘argumento de autoridade’ para dizer porquê Chico Antônio era importante. Ele era importante, apesar de Mário de Andrade. E por isto Mário foi lá. Porque Mário de Andrade era um Midas da cultura brasileira, onde ele botava a mão, resplandecia. Então, principalmente depois que ele (Mário) morreu, muitas pessoas foram ver que ele tinha muita propriedade sobre aquilo de que ele falava. E até antes, porque ele foi um grande batalhador na questão do patrimônio nacional. Só que ele morreu bem desgostoso em relação a isso. Ele morreu com muitas críticas em relação aos governantes e de como o patrimônio tinha sido, tem sido tratado. Estava sendo tratado naquele momento", nota Gilmara.
A historiadora acrescenta: "Eu acho que a gente já tem um grande avanço, hoje, porque o patrimônio, e principalmente as instituições como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) já foram mais engessadas. Com esse atual governo, eu vejo que existe uma linha de buscar o que existe em relação ao patrimônio que é muito próxima ao que o Mário imaginava e que foi seguido também pelo Rodrigo de Melo Franco, que foi o sucessor de Mário de Andrade, e principalmente pelo Aloísio Magalhães, que deu uma renovada no que tinha sido feito, colocando a cultura como se fosse uma propriedade da comunidade. Isso é o que tem sido pregado hoje. Que foi a mudança pregada pelo Aloísio Magalhães, naquela década, de 79 para 82."
A afirmação de Gilmara é referendada pelo escritor e cineasta Eduardo Escorel, que esteve no Rio Grande do Norte na década de 80, em busca do paradeiro de Chico Antonio, ao registrar em seus escritos:
"O encontro entre Mário de Andrade e Chico Antônio é comparado ao encontro de duas esferas da sociedade distintas, duas classes sociais opostas, dois universos culturais que se encontram na ‘missão’ de tornar híbrida a cultura brasileira através da consagração do ‘saber local’ inserido numa ‘memória nacional’: "um encontro carregado de emoção entre um mestre erudito e um mestre popular. Um, sulista, outro, nordestino ambos de estatura elevada, muito acima da média de seus conterrâneos. Todos dois com a capacidade de despertar paixões."
Gilmara aproveita essa passagem, para esclarecer a presença do cineasta, e principalmente das razões que motivaram sua vinda ao Estado: "Na década de 80, o cineasta Eduardo Escorel veio aqui e fez um levantamento. Aliás, em 1982 veio um grupo do Rio de Janeiro, da Funarte, fazer um projeto, chamado Estrada Nova, em que eles ensinavam às crianças o que hoje a gente chama de ‘protagonismo’ local. Era mostrar às crianças aquele patrimônio, aquela personalidade que eles têm lá, para cultuar e valorizar aquele músico local, com toda a sua história de vida. E o Escorel – não no mesmo projeto, mas aproveitando esse ensejo – veio e fez um filme, ‘Chico Antonio, o herói com caráter’. Nesse filme, ele tem uma entrevista com o Chico Antonio. Existe também uma entrevista com Chico Antonio no programa Memória Viva, realizada pelo jornalista Carlos Lyra. Veio também a coordenadora do projeto, Leila Coelho Frota, que também fez o jornalzinho da Funarte, o Estrada Nova, que também fala nesse filme."

Nenhum comentário: