quinta-feira, outubro 11, 2007

Chico Antônio como sopro inspirador

Paulo Augusto
Editor do RADAR POTIGUAR

Os artistas potiguares podem ter na história do coquista Francisco Antônio Moreira (1904-1993), nascido em Cortes, distrito rural de Pedro Velho, município da região agreste do Estado do Rio Grande do Norte, o famoso Chico Antônio descoberto pelo escritor e musicólogo paulista Mário de Andrade em 1929, uma das referências mais fortes e um símbolo de reação e contra-ataque ao comodismo e à alienação, à subalternidade e à cooptação.
Embora a história do cantador de Pedro Velho tenha definitivamente sido embalada num envoltório de apadrinhamento, abono ou favorecimento, já que foi descoberto e preservado por ter sido tocado pelo Midas da cultura bandeirante, sua experiência, assemelhada a outros eventos de igual teor registrados ao longo da nossa história, pode servir para despertar, conscientizar e estimular nossas mais novas expressões artísticas, na ausência de políticas públicas voltadas para o setor, a darem "a volta por cima", inventando ou retomando seu lugar de direito, nas nossas ribaltas.
Essa sugestão pode ser acalentada após a leitura do livro "O Canto Sedutor de Chico Antônio" (Edufrn, 2001), da historiadora e antropóloga natalense Gilmara Benevides Costa, que mergulhou na vida e obra de Chico Antonio, produzindo um saber inédito, que serve de reforço para as novas gerações de criadores e produtores culturais, a fim de se orientarem enquanto empreendedores.
No caso do coquista, que trabalhava como agricultor no engenho Bom Jardim, propriedade da família do então deputado estadual e crítico de arte Antônio Bento de Araújo Lima (1902-1988), foi preciso a intervenção de seu patrão, em janeiro de 1929 – quando ambos tinham idades aproximadas e um profundo interesse em comum: a música –, que serviu de mediador cultural, promovendo a realização de um "evento histórico", como descreve Gilmara Benevides.
Antonio Bento iria provocar o encontro do embolador de cocos com o musicólogo Mário de Andrade (1893-1945). Seria a partir deste encontro que Chico Antônio ficaria conhecido como o coquista "descoberto" por Mário de Andrade, tendo o musicólogo o consagrado de forma definitiva, ao citá-lo em suas pesquisas nos livros "Os Cocos", "Vida de Cantador", "O Turista Aprendiz", "Danças Dramáticas" e "Melodias do Boi e Outras Peças". (Foto de Chico Antonio feita por Mário de Andrade em janeiro de 1929.)

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