sábado, maio 19, 2007

A perdição do poder

Vejamos agora o que nós escrevíamos no artigo "A gloriosa posse de herr Papau", cuja íntegra se encontra no Observatório da Imprensa na data de 05.11.2000 (leia aqui), a fim de podermos refletir sobre nossa sina. De consumidores de notícias. Mas de consumidores bestas. Não de bestas como jumentos. Mas de bestas-feras, já que terminamos sendo sanguinários, maus e desumanos para com nós mesmos e com nossos conterrâneos, ao engolirmos calados tudo que vemos e assistimos no sinistro teatro de nossa política.
"O livro do jornalista Lucas Figueiredo, Morcegos Negros (Record), retrata as tramas da verdadeira organização criminosa que tomou conta do país à época do governo do presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), sob o comando geral de um chamado Esquema PC, cujo cabeça era o empresário alagoano Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha de Collor. No livro ficam evidenciadas as conexões do Esquema PC com o crime organizado internacional. O esquema faturou, segundo cálculos da Polícia Federal, nada menos que US$ 1 bilhão, sobressaindo-se a participação efetiva não só do empresariado e de autoridades, como de mafiosos italianos pertencentes a uma das maiores redes internacionais de narcotráfico.
"A ação desse grupo acabou envolvendo funcionários públicos, empresários, industriais, comerciantes e particulares num quadro de corrupção, concussão, exploração de prestígio, extorsão e usurpação de função, entre outros crimes, com total desapreço aos princípios que regem a administração pública", documenta o inquérito-mãe do caso PC Farias transcrito por Figueiredo.
"Na verdade, diz no prefácio o jornalista Clóvis Rossi, o que se revela é o resultado "da ocupação do poder – de todos os espaços possíveis de poder – pela máfia". Rossi adverte, em tom melancólico: o livro não se constitui numa espécie de peça de arqueologia jornalístico-literária, que revisita idos de um passado distante. "Trata-se de uma espécie de dissecação das entranhas de um sistema de poder apodrecido ao ponto do inimaginável." E complementa, como um aviso: "Não é o Brasil de ontem que está retratado no livro. É um Brasil ainda muito presente." Uma trama, diz Rossi, que aponta, ao final, para a impunidade generalizada, a incompetência, má vontade ou falta de recursos para se investigar o que quer que seja no Brasil, e para a complacência com a criminalidade e a convivência de empresários, supostamente homens de bem, com esquemas inequivocamente mafiosos.
"Veja-se o processo de indicação, como conselheiro do venerando Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte (TCE), do irmão do governador Garibaldi Alves Filho, o ex-secretário de Governo Paulo Roberto Chaves Alves (Papau). Ele desnuda o paradigma da política no RN. Dentro da engenharia do sistema governista, Papau seria lançado como deputado federal, diz o Diário de Natal de 1º de novembro. Para acomodar parentes que disputarão cargos eletivos em 2002, indicou-se o conselheiro Nélio Dias, que requereu aposentadoria, ganhando, em troca, a Secretaria da Agricultura e a oportunidade de candidatar-se à Câmara Federal."
Voltando ao presente, aguardemos os 800 estudantes e especialistas de Direito que estarão em Natal de quinta-feira até sábado próximos, dias 24 a 26, quando discutirão temas relativos ao direito, com enfoque para o direito constitucional, penal, administrativo, processual e econômico. É objetivo do encontro contribuir para a formação de juristas, ao mesmo tempo em que tenta iluminar as questões que dizem respeito às políticas públicas que são adotadas pela nossa administração pública nos três níveis de governo.

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