sábado, setembro 08, 2007

Fundação José Augusto: ‘Ninguém merece’

O editor e sebista natalense Abimael Silva, 44, cuja loja, o Sebo Vermelho, na avenida Rio Branco, 705, é um reduto de intelectuais, amigos e curiosos, que ali encontram abrigo para dessedentar a secura e encontrar lenitivo sobre os rumos, veredas e descaminhos, além das últimas novidades do mundo cultural da capital, muito além da fama de ser uma organização desorganizada, não mede palavras quando inquirido sobre o seu ofício. Na sua faina de editor, já conta com mais de 212 títulos, estando sempre alerta para trazer à luz autores e obras que se perderiam nas gavetas e nos escaninhos das desventuras de quem vive em terras "madrastas".
Na entrevista, publicada em forma de depoimento inteiriço, que concedeu ao Caderno Encartes, do Jornal de Natal (10/09), entre o atendimento que fazia a seus clientes, na semana passada, Abimael pôde alinhavar uma aguda apreciação sobre o momento vivido pela cultura no Rio Grande do Norte, no momento, com enfoque especial sobre o desempenho da Fundação José Augusto, principal organismo de promoção do assunto no Estado, para o que dispõe de verbas que se situam em torno de R$ 2 milhões.
O leitor pode ter uma idéia, a partir dos subsídios oferecidos pelo editor e homem de cultura, de como se dá a política estabelecida pelo Partido dos Trabalhadores, no gerenciamento da principal agência cultural no Estado do Rio Grande do Norte.
Com a palavra, a partir daqui, Abimael Silva:
"É lamentável, mas, a política cultural do estado, no presente momento, é de fazer vergonha ao leigo que mora distante, que está visitando Natal. Ele sente essa coisa, eu diria, meio ridícula, do ponto de vista da prática cultural. Porque, sinceramente, tem umas coisas que a gente não pode admitir. Como exemplo, a revista Preá deixou de existir. O último número que saiu foi de maio de 2006. Acontece que a revista Preá passou a ser um patrimônio não do Governo do Estado nem da Fundação José Augusto, nem nada. Passou a ser um patrimônio do povo potiguar, do povo norte-rio-grandense. E, simplesmente, não só isso aí. Ela era um orgulho para o Brasil, com intercâmbio cultural. Ela fazia, de repente, matérias com Ariano Suassuna, com Fernando Morais, com "n" figuras importantes. Com Affonso Romano de Sant’Anna falando coisas importantes sobre a nossa cidade. E muitos e muitos outros.
E com um grande diferencial. A Preá tinha uma grande novidade, que era dar vez e voz ao cidadão comum que mora lá no seu interior, que nunca teve espaço na mídia, na produção cultural do Estado. A revista ia lá e mostrava a cidade, em todos os ângulos. A revista dava vez e voz a essas figuras, a esses artistas anônimos, que são artistas até anti-heróis, sob certo ponto de vista, porque ele, com muito talento, com muita qualidade, muita originalidade, mas nunca teve espaço para mostrar a sua obra. E a revista Preá era esse espelho, essa vitrine, que fazia tudo isso. E com outras qualidades mais. Mas acontece que, de repente, resolveram, porém, acabar com a revista e criar um jornal, no lugar da revista, e não deram uma palavrinha, para dizer: "Olha, a revista não vai mais circular". E fica aquele mundão de leitores procurando: "Cadê a revista?" Isso, pegando só num ponto, que é este da revista Preá.
Depois, se você for observar bem, a nossa cultura está muito chinfrim. Está muito sem futuro, porque não acontece nada que tenha uma qualidade mesmo. Hoje, por exemplo, não é ciúme, nada, mas é vergonhoso o quadro humano da Fundação José Augusto. O quadro profissional, o quadro de artistas, gente que trabalha com a cultura. Conclusão: hoje, a fundação não faz nada. Dizem, apenas, segundo os jornais, que estão zerando as contas antigas e tal. Tudo bem. Claro que tinha muita conta. Mas ninguém pode ficar só pagando contas antigas, sem mostrar nenhuma produção. Isso aí vergonhoso, também. "

Um comentário:

Anônimo disse...

Viva o "corajoso" e "competente "abmael( em meio a tanta gente submissa)!!!
abs.tertu