sábado, maio 31, 2008

Político às avessas

Juvenal Antena, um político às avessas
Em "Duas caras", Antonio Fagundes fugiu do rótulo de corrupto
Patrícia Villalba
Tribuna da Imprensa
Rio de janeiro, sábado, 31 de maio, e domingo, 01 de junho de 2008
A gente pode dizer que o Juvenal Antena é uma evolução do político?
ANTONIO FAGUNDES - Sim. É uma evolução, já que o político tradicional age ilegalmente de uma forma irresponsável, ou seja, ele rouba. Então, o surgimento de alguém que rouba mas faz, infelizmente, para nós é uma evolução. O Juvenal tem essa vantagem e a vantagem de entender o meio onde ele atua. Ele não está em Brasília, passa no meio do lixo, no meio do esgoto a céu aberto.
Ele pratica uma maneira moderna de política, mas ao mesmo tempo tão feudal...
Essa é uma tradição brasileira, paternalista, que a gente herdou da colonização portuguesa e que veio evoluindo de uma certa forma de séculos pra cá. Mas a gente pulou algumas etapas. Ficamos 21 anos sem exercer a relação democrática de eleição. A gente não entende muito bem disso ainda, que o poder precisa ser alternado. Então, um personagem que fala autoritariamente está falando a nossa linguagem, porque não entendemos ainda o que é democracia.
Pessoalmente, você vê o Juvenal como um vilão ou um herói?
Eu acho que ele não tem essas duas caras. É um dos personagens mais complexos que eu já vi em teledramaturgia. O Aguinaldo (Silva) montou um personagem absolutamente real, crível, excelente pai de família, sensível. E autoritário, ditador, violento, irascível. É um ser humano complexo e eu diria completo. Tudo era possível dentro daquele cadinho ali chamado Juvenal Antena.
Juvenal dividiu opiniões, é amado e odiado. O que você ouviu na rua?
Dificilmente chega uma análise comportamental do personagem. É mais anedótico mesmo - aquela coisa do "êpa, êpa, êpa", "justamente", "muita calma nessa hora". Mas para o público é claro que ele faz as coisas todas às claras.
A sinceridade o redime, então?
É. E ao lado da violência, ele tinha um excelente humor, era muito gentil. Foi a primeira vez que eu vi um personagem, digamos, político exercer a sua política. O Aguinaldo fez uma sala onde ele exercia política, atendia à população da favela e respondia às suas necessidades. Que vereador, deputado ou senador atendeu a um telefonema de um eleitor? Nenhum. Mesmo que as respostas dele fossem autoritárias, ele estava lá para ouvir. Isso faz do Juvenal um personagem brilhante.
Os bordões dele faziam parte do texto ou foram criados por você?
O "justamente" é meu, homenagem a um amigo que fala assim. O Aguinaldo coloca às vezes um "êpa" no início das falas dos personagens. Eu só exagerei, transformei o "êpa" dele em três ou quatro. O "muita calma nessa hora" é do Aguinaldo. Digamos que foi meio a meio.
Mudando de assunto, o Juvenal costuma dizer que nada acontece na Portelinha sem que Juvenal Antena permita. Nesse sentido, acha que ele vai permitir o beijo gay ou não?
Se for seguir a coerência, ele não só vai permitir como vai querer que tenha! Ele se portou ao longo da história toda bastante aberto em relação a isso. Ele sabe que essa coisa de mostra ou não mostra é um detalhe.
Já soube que ele foi eleito como o novo muso dos "ursões"?
Ah, não sabia, não. Aí, digamos que seja o intérprete...
31/5/2008 23:43:27 (Fonte)

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