terça-feira, janeiro 09, 2007

Se liga no papo, maluco, é o terror!

Corrupção, plenipotência e Ministério Público
Edilson França
Procurador Regional da República
“No seu livro “A República dos Apadrinhados”, o jornalista Gilberto Dimenstein já chamava atenção para uma certa estratégia de defesa, desdobrada em três flancos primários, utilizada por alguns dos envolvidos em atos de corrupção. Num primeiro passo, o investigado questiona a legalidade ou regularidade formal do procedimento apuratório. Depois, num segundo ato da encenação, procura estabelecer uma vinculação entre a investigação e um hipotético interesse inidôneo, de preferência político. Numa terceira etapa, carrega toda a munição disponível nas costas do denunciante ou do investigante, procurando desconsiderá-los perante a opinião pública.
“Evidente que, para obter sucesso nessa maquinação, o corrupto se valerá da imprensa. É também através dela, por intermédio de notícias plantadas, artigos ludibriosos ou notas pagas que ele tentará trazer para o banco dos réus, caseiros, motoristas, aderentes, secretárias e, até mesmo, policiais encarregados da investigação respectiva. Mais recentemente, como se não bastasse o alcance nefasto dessa odiosa hipocrisia, bem marcada pela falta de compostura, certos indivíduos, direta ou indiretamente interessados no desfecho proveitosos de tramas escusas, têm ocupado as páginas de jornais para tentar desqualificar a atuação do Ministério Público. Esgoelam-se, desvairadamente, sem notar que a velhacaria escrita volta-se contra o próprio detrator, quase sempre identificado como lacaio ou como o próprio interessado na pantomina. Esquecem-se de que, invariavelmente, os que atacam o Ministério Público o fazem por ignorância ou por serem velhos atores passivos de suas peças criminais.
“Penso que duas orientações devem ser adotadas pelos membros da instituição diante dessa esperteza pré-processual. A primeira delas deve ser no sentido de que não arrefeçam o entusiasmo nem percam o estímulo que brota das suas ações em favor da sociedade. Devemos manter a esperança de que, um dia, a dignidade e a ética ocupem o vazio moral então reinante. A tarefa é árdua, porém, possível. A segunda orientação, que acredito acertada, recomenda mais trabalho e menos preocupação com respostas que possam sugerir certa importância aos ofensores de hoje e, certamente, réus de ontem ou de amanhã.”

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