sábado, janeiro 13, 2007

Fausto Wolff joga luz sobre o RN

Guerra civil
Fausto Wolff
Diário de Bordo do Comandante, por Fausto Wolff
"As favelas cariocas não deveriam existir, mas existem e só deixarão de existir depois de uma guerra civil.
Existem por culpa da nossa elite política e econômica, corrupta desde os tempos da Colônia. Quando não se dá ao camponês terra para ele plantar, a solução é o pau-de-arara-Rio-São Paulo-favela. As valas negras jamais foram românticas, mas conheci os morros dos compositores e de sua gente trabalhadora. Os bandidos eram poucos e conhecidos de todos. O detetive Perpétuo, um gaúcho com cara de índio e bigode fumanchu, andava desarmado e costumava arrastar vagabundo pela orelha favela abaixo.
Algumas coisas aconteceram, entre elas, o golpe de 64. Entre 64 e 70 o tráfico estabeleceu-se na favela. Certamente não se estabeleceu como o maquidonaldis, com uma franquia em morro. Começou humildemente e a polícia poderia ter acabado com ele, se quisesse. Mas não quis. Ordens superiores.
Quando voltei da Europa em 78, depois de dez anos, o tráfico já estava instaladíssimo. Devo dizer que jamais se meteu com a população urbana do bairro. Durante quase uma década, fui um dos editores do Pasquim, na Rua Saint Roman, em Copacabana, e jamais houve um roubo ou assalto na região. Certa vez, Ulysses Guimarães foi até a redação dar uma entrevista. Uma hora depois, alguém informou que haviam roubado sua mala do carro. A informação espalhou-se pelo morro do Pavãozinho e pouco depois a mala reapareceu, com o seu conteúdo."

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