segunda-feira, maio 28, 2012

TJRN: Não podemos deixar de nos indignar

Não podemos deixar de nos indignar
Isabel de Siqueira Menezes - promotora de justiça
Tribuna do Norte, Natal/RN, 27 de Maio de 2012
Artigo

'Não que não soubéssemos que alguns dos nossos órgãos julgadores fossem desonestos'...


Os últimos acontecimentos que envolvem o escândalo dos precatórios no Rio Grande do Norte nos leva a pensar como a cultura da desonestidade está profundamente arraigada na nossa sociedade, onde o órgão encarregado de desfazer injustiças, zelando pela honestidade e apaziguando os conflitos sociais, possuí funcionários que desviam dinheiro público.

Ora, quem trabalha na área jurídica de nosso Estado, ou é servidor publico, já ouviu casos que colocam em cheque a honestidade de alguns dos nossos órgãos julgadores.

Mas pensar que ocorreram desvios de dinheiro público através de funcionários desse órgão, que deve socorrer as pessoas que tiveram seus direitos desrespeitados é realmente preocupante. Mostra que a corrupção está em todas as esferas do serviço público, disseminado em nossa sociedade.

Através desse esquema de corrupção, dinheiro público escoou para as mãos de funcionários corruptos, deixando de pagar pessoas idosas, normalmente aposentadas, que sofreram de algum modo uma injustiça que deu origem ao crédito, que deveria ser pago através do precatório. Essas pessoas foram prejudicadas pela segunda vez, ao não receberem integralmente seus créditos ou serem preteridas em seu recebimento.

Quando o servidor público do judiciário desviou recursos do precatório para sua conta particular, prejudicou centenas de pessoas que residem no nosso Estado, que deixaram de ter uma escola pública de qualidade, ou um atendimento adequado de saúde no seu Município, pois recursos dos Municípios e Estado foram depositados na conta dos precatórios e foram desviados.

Além disso, é claro, retirou dos habitantes do Rio Grande do Norte a esperança de um dia ver as coisas melhorarem e que a Justiça venha realmente contribuir para que as pessoas que tiveram seus direitos violados fossem recompensadas.



Analisando todo o esquema de corrupção relatado pela nossa imprensa ficamos indignados. Não que não soubéssemos que alguns dos nossos órgãos julgadores fossem desonestos e muitas vezes decidissem com obscuras fundamentações. Mas porque os desvios de recursos públicos ocorreram, repetidamente, de forma simples, através de uma falha do controle interno do órgão, prejudicando pessoas que tiveram seus direitos reconhecidos e estavam aguardando durante anos em uma fila.

Agora, com o esquema revelado, só nos resta esperar que órgãos do judiciário estadual sejam renovados e os corruptos responsabilizados.



'Nossa história nos revela quinhentos anos de corrupção 
                                                 com absoluta certeza de impunidade.
                                                             Então o que fazer?' (Foto)

Não perder a esperança de que um dia a história vai mudar. Como disse Ana Carolina, em poema de Elisa Lucinda, que fala sobre corrupção: 

"Sei que não dá pra mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar pra mudar o final".

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