quarta-feira, maio 23, 2012

Descaso com alma da cidade do Natal

Jornal de Hoje
Natal/RN, Data: 26 abril 2012
Rinaldo Barros, professor – rb@opiniaopolitica.com



 Poetas, seresteiros, namorados…correi! Chama o ladrão...

Transtorno, frustração e desrespeito aos artistas e intelectuais da nossa capital mobilizaram alguns profissionais das artes visuais, movidos pela tristeza, contra a recorrente não realização do Salão de Artes Visuais de Natal, evento que deveria realizar-se anualmente sob a responsabilidade da Prefeitura do Natal, via Capitania das Artes. Desde 2010 que a Prefeitura foge de sua responsabilidade, por absoluta incompetência e ausência de planejamento acerca daquilo que realmente é fundamental para o desenvolvimento de qualquer povo. Essa é apenas uma das muitas demonstrações de descaso com nossa produção cultural, com nossos artistas. A atual gestão dos destinos da Noiva do Sol não demonstra a menor compreensão sobre o papel fundamental da cultura para a construção da cidadania e do desenvolvimento sustentável. Pedindo vênia ao caro leitor, e correndo o risco de pregar no deserto, vou aqui dissertar sobre o óbvio, uma espécie de recado aos ouvidos moucos dos que (ainda) pousam como deusa e deuses da cidade do Natal. As mentes privilegiadas dessas divindades não conseguem alcançar que estão, com sua omissão e incompetência, enterrando viva a alma do nosso povo. Não alcançam, por exemplo, que o teatro, o cinema, a música e a dança, deveriam ser considerados como atividades prioritárias para o estabelecimento da cultura e o desenvolvimento da cidadania da nossa população. Seus objetos e objetivos deveriam ser valorizados pelos demais setores da sociedade, utilizados transversalmente pela saúde pública, educação, principalmente a ambiental, e apoiados pela população em geral, o poder público e a iniciativa privada. Relembro aqui que nossa capital ainda carece vergonhosamente de um Teatro Municipal. Até mesmo o modesto Sandoval Wanderley agoniza, sem qualquer ação que o socorra. Na mesma linha de raciocínio, literatura, artes visuais e manifestações populares, como parte da cultura geral da população, devem ser conhecidas e respeitadas pelos moradores e visitantes em geral, mas a responsabilidade sobre a sua conservação, desenvolvimento e divulgação está diretamente ligada ao poder público, já que pertencem à “res publica”, à coisa pública. A Prefeitura tem a obrigação de manter vivo o legado do povo! Não cumprir com essa obrigação é crime de lesa-humanidade. A história, sem dúvida, fará o julgamento, e a condenação é uma possibilidade concreta. Igualmente importante é a participação da iniciativa privada, como corresponsável, no desenvolvimento da cultura. Os empresários e empreendedores, incentivados pelo poder público, deveriam assumir a condição de promotores da cultura do município e da Região. Por sua vez, as associações comunitárias deveriam promover o resgate das atividades culturais de suas localidades através de oficinas, exposições, concursos, eventos comunitários com a finalidade de divulgar e incentivar novos talentos nas atividades de artesanato, gravura, música, folguedos e literatura popular. É urgente também implantar uma Casa da Memória, incluindo um Banco de Imagens, com acervo adquirido e catalogado, a fim de disponibilizar a população, para pesquisas, trabalhos escolares, publicações, com a devida informatização, inclusive com Fonoteca, visando a recuperação, reprodução e difusão de discos, vídeos, filmes, CDs, DVDs. Instalar o Museu da Imagem e do Som da Cidade do Natal é uma meta igualmente fundamental. Por sua vez, as bibliotecas públicas, criadas e mantidas adequadamente, deveriam ser o principal mecanismo a ser utilizado para a execução dos projetos e atividades de ensino/aprendizagem. Na mesma direção, devem ser criados os Centros Litero-culturais em todas as comunidades, para congregar jovens em torno de atividades de letramento e produção literária. Por último, a criação democrática de um Sindicato dos Artistas deve ser igualmente meta destes profissionais, que se encontram atualmente com pouco poder de negociação frente aos empreendedores que eventualmente utilizam seus serviços. A organização dos artistas é oportuna e estratégica, sobretudo para enfrentar o debate sobre as imensas possibilidades surgidas com a Internet, inclusive o novíssimo debate sobre a propriedade intelectual. Resumo da ópera: caso tivesse o planejamento como Norte, e houvesse praticado uma política cultural digna de uma cidade-pólo de uma Região Metropolitana, a gestão atual não estaria sendo assombrada por tantos fantasmas. Poetas, seresteiros, namorados…correi! É chegada a hora de escrever, cantar, dançar, pintar…e votar. (Foto: PA)

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