quarta-feira, maio 23, 2012

Lembrando Domício Arruda Câmara

Jahyr Navarro, médico (jahyrnavarro@gmail.com)
Jornal de Hoje, Artigos 21 maio 2012 - Por: Portal JH
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'O dr. Domício Arruda Câmara, foi na realidade um bom secretário. 
Um dos melhores que por ali passaram. Saiu machucado nessa 
caminhada por uma trilha tortuosa e espinhosa, 
mas incólume da pecha de incapaz e de desonesto'

Apesar de não fazer parte do quadro da Secretária de Saúde Pública do Estado – Sesap – venho, há muito, acompanhando pelos jornais e televisão tudo que ocorre no seu âmbito, que desperte a curiosidade popular. Lembro das nomeações de vários secretários nos diversos governos e – sem exceção – todos estiveram à altura do cargo que ocuparam. Honestos, capazes, mesmo assim, não se livraram das críticas contundentes quando faltaram os meios necessários à condução dos programas em andamento. Segundo os americanos: – “no money, no music.”
Interessante, é que a Secretária de Saúde na pessoa do seu secretário, responde por tudo que acontece na sua área em todo Estado, onde os problemas são iguais ou bem maiores. Contudo, são pouquíssimas as queixas em relação ao que acontece no Walfredo Gurgel. Parece que a população interiorana é bem mais compreensível ou valoriza melhor os acertos praticados. Mas, por razões já conhecidas, se a estrutura não funcionar bem no Walfredo, a casa cai. E é justamente por esse prisma que a população natalense enxerga a Sesap em todo o Estado.
A turbulência que vez por outra acomete esse hospital, tem muito a ver com as dívidas do governo em restos a pagar de exercícios anteriores, e com repasses insuficientes que emperram toda e qualquer administração, por mais honesta e capaz que seja. Abre-se assim o caminho para as macas se instalarem nos corredores, atraso no pagamento aos fornecedores, falta de medicamentos e por aí segue o rumo que a população já conhece muito bem.
Desde sua inauguração que o Walfredo segue uma trajetória sinuosa com altos e baixos. Quando tudo vai bem, navega num mar de rosas. Quando não, o mar é tempestuoso, cujas vagas são jogadas para todos os lados. Lembro bem de uma fase bem parecida com esta, em que alguns automóveis circulavam pela cidade com decalques colados em seus vidros dianteiros, com os seguintes dizeres:
Da vida gosto muito.
Da morte, tenho medo.
Em caso de acidente,
Não me leve pro Walfredo.
No entanto, em todas as épocas esse hospital foi uma referência no setor que atua. Dotado de um quadro profissional excelente, é altamente qualificado estando a serviço da população as vinte e quatro horas. Faz esse atendimento a qualquer hora do dia e da noite, com uma equipe pronta para ajudar qualquer pessoa que “por infelicidade o procure e por felicidade o encontra.”
O dr. Domício Arruda Câmara, foi na realidade um bom secretário. Um dos melhores que por ali passaram. Dedicou-se a esta causa com abnegação e em tempo integral, honrando com o seu tino administrativo o período em que esteve à frente dos trabalhos. Deixou o cargo, sem deixar que seus princípios se sujeitassem às circunstâncias do momento. Saiu machucado nessa caminhada por uma trilha tortuosa e espinhosa, mas incólume da pecha de incapaz e de desonesto.
Não foi à toa que politicamente foi visualizado e sim pela retidão do seu caráter e pela linha da conduta profissional que adota, além do invejável currículo que ostenta. Foi diretor do Walfredo Gurgel, diretor do Hospital da Unimed e presidente da Unimed de Natal, quando manuseava um orçamento de quase vinte milhões de reais. Em todas essas funções, deixou suas impressões digitais, ou melhor, o modelo ímpar de trabalhar. Com esse perfil, tornou-se uma “presa fácil” para o convite que recebeu ou receberia de qualquer outro governo.
Perdeu o cargo por uma frase que sabe-se ser fruto do estresse acumulado. Viu-se a frase, mas fecharam os olhos para a dedicação e o trabalho incansável e profícuo que vinha realizando. Não sei se muita gente, nas mesmas condições – inclusive eu – teria sido tão elegante na recusa da entrevista à Globo.
Lembre-se prezado colega, que na sua retaguarda existe uma parcela significativa da classe médica que está ao seu lado. Uma maioria que não se manifesta, senão por um silêncio sintomático, que se tornará eloquente, se as circunstâncias permitirem.

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