quinta-feira, dezembro 06, 2007

Falves Silva e o relevo do Poema Processo

RP - Agora, o Brasil, é como se ele fosse um arquipélago, cheio de ilhas que não se comunicam.
Falves - Exatamente. São várias ilhas. O Nordeste, por exemplo, é uma imensa ilha. Eu diria que é quase um país isolado do Sul. Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, e Brasília se acham os donos da verdade. Quem noticia um artista do Nordeste, da Paraíba, do Rio Grande do Norte? É raríssimo. O cara tem que ir para lá, para o Rio ou São Paulo, comer o pão amassado pelo demônio, pra poder virar o cara.
RP - Você tentou, artisticamente, para que houvesse uma intercomunicação daqui com o Rio Grande do Sul? Nós temos uns escritores jovens, agora, que se comunicam. Mas, em geral, poderia haver alguma coisa nesse sentido, né?
Falves - Tem tudo a ver para que exista esse movimento, com apoio inclusive da internet. Que a internet eu acho que é uma via da maior importância. Agora, contraditoriamente, eu não gosto de computador. Eu ainda faço uma coisa assim artesanal. Porque arte é contraditória. A gente vai lá e vem cá. Eu sou um primitivo. Eu nasci em 43. Então, eu evoluí involuindo. Aí é uma questão que...
RP - Mas vai também do seu entorno.
Falves - Exatamente. Do meu entorno. Por exemplo: eu nunca fui ao Rio de Janeiro, nunca fui a São Paulo. O lugar mais distante foi Recife, Fortaleza.
RP - Agora, o que é que Moacy Cirne fez agora, neste momento, para mexer, divulgar sobre os 40 anos. Porque ele vai e vem do Rio de Janeiro.
Falves - Eu acho que Moacy é o cara mais importante nessa ida e volta, nesse trânsito. Ele sempre foi. Por que? Ele é um cara que tem um poder aquisitivo familiar. É o contrário de alguns outros, que não têm. Isto, em benefício dele, é excelente. Eu acho que Moacy tem uma capacidade de raciocínio muito forte, e graças a ele é que esse movimento do Poema Processo eclodiu aqui no Rio Grande do Norte e no Rio de Janeiro, simultaneamente. Isso aí eu acho inegável. Ele é uma pessoa que tem um conhecimento imenso.
RP - Mas você, se hoje chegasse uma pessoa, um grupo pra botar você para ir para o computador, pra internet, pra você dominar a informática, você iria?
Falves - Olha, eu, com a idade que eu tenho, não é uma questão de idade, mas uma questão de manuseio com o objeto com o qual você quer trabalhar. Eu estou fazendo uma exposição agora na qual estou mostrando isso.
RP - Sim, fale sobre a exposição.
Falves - Vai ser na Ribeira, durante o Encontro Natalense de Escritores. Nela estou mostrando minha evolução. É uma exposição particular minha, em homenagem aos 40 anos do Poema Processo. (Foto de Paulo Augusto: Marcellus Bob e Falves [dir.])

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