quinta-feira, dezembro 06, 2007

Falves Silva e o relevo do Poema Processo

POLÍTICOS, PALAVRA E EMBOTAMENTO
O uso da palavra, por exemplo, por políticos. Quem usaria mais a palavra? Getúlio Vargas estragou a palavra. Leonel Brizola também é um cara legal. Quantos políticos não estragaram a palavra? Collor de Mello estragou a palavra à exaustão. Foi presidente da República. E foi deposto. E essa coisa da palavra, essa exaustão da palavra, quando chega a ela não ter mais nenhum significado, politicamente nem poeticamente. O poeta só pode usar a palavra agora se for uma coisa com grande exclusividade. Um poeta de grande categoria. Fica a verborragia, aquela coisa repetitiva, redundante, secular. Nós estamos no século 21, o homem está fazendo piquenique no espaço. Está se preparando para ir a Marte. Então, a imaginação do homem é a coisa mais importante que nós temos. O Universo vive em desenvolvimento. Se você pára esse desenvolvimento na mente humana, embota a nação. É o que está acontecendo agora. Todo dia cai um avião. Todo dia tem um levante numa cadeia pública. E isto é embotamento da mente humana.
GLAMORIZAR A POBREZA
RP - O homem entrou num oito e aí ficou preso?
Falves - Circulando. É o circular. É Vico. Jean-Baptiste Vico é quem falava sempre isto. É circular essa falta de informação no Brasil. Por exemplo: o excesso de folclore. Folclorizam demais o nosso subdesenvolvimento Glamorizam o folclore, e aí você glamoriza a pobreza. Quando você glamoriza o folclore, você está glamorizando a pobreza. Como se você dissesse assim: "Olhe, a cultura de pobre é bumba-meu-boi. E a cultura erudita está dentro da universidade. Não se metam, não. Aqui é outra coisa." E todos os governos, em toda parte do mundo, se faz isso. Não é só aqui no Brasil. Então, esse subdesenvolvimento é que vai, inclusive, levar a uma conclusão drástica: o Brasil pode se preparar. Eu sou premonitor (premonitório): Vai haver uma revolução nesse Brasil, se os governos não se preocuparem com a educação imediata. É uma coisa de imediato. A educação é primordial. Se não houver uma preparação para uma educação nas bases, no ensino fundamental, vai acontecer uma rebelião. Com certeza. Aliás, essa rebelião que já está acontecendo, que é a rebelião velada nas cadeias públicas de todo o Brasil. E quem quer que estude a história das revoluções (sabe): todas as revoluções começam nas cadeias.
CASO ESPECIFICAMENTE DO NORDESTE
Esse é que é o embotamento da mente. No nosso caso especificamente do Nordeste. Nós. Eu acho que... Existe uma cultura erudita e o folclore deve ser preservado, com certeza, mas também não vamos glamorizar esse subdesenvolvimento em nome de um bumba-meu-boi qualquer. A poesia, especialmente, é uma das artes na qual é necessário que o poeta desenvolva a sua mente. Você não pode parar. O ser humano não pode parar. A mente não pode parar. Então, há continuidade. A mente. Tem que haver continuidade para a vanguarda, que não é a mesma vanguarda dos anos 60. É uma outra vanguarda que vai surgindo, que vai se multiplicando. E vai se auto-superando. É um outro produto. É um produto de um produto, que será um outro produto no futuro. O ser humano tem que usufruir disso.
Natal não é mais uma província. Natal já é uma metrópole. Natal tem um milhão de habitantes. E isso, de um modo geral, Natal já é uma metrópole. Inclusive uma metrópole sofisticadíssima. Natal sempre foi sofisticada. Desde o (texto) "Natal daqui a 50 anos", de Manoel Dantas, no início do século passado. Isso já era um prenúncio daquela modernidade, que viria. E, por ser uma cidade, naquele período, próxima da Europa, tudo que acontecia na Europa chegava por aqui mais rápido. Por Natal ser um porto - especificamente um porto, onde os navios chegavam por aqui. Tanto é que existe uma frase de (historiador) Lenine Pinto, em que ele prova por A + B que o Brasil foi descoberto aqui, em Touros, e não lá na Bahia.
RP - O caso do pobre. A gente está falando da educação, das escolas que não são cuidadas, e tudo. Mas o pobre, mesmo assim, ele está dentro de uma fase evolutiva, ele acompanha o crescimento e a evolução da ciência...
Falves - Ele está ciente da tecnologia. Ele está vendo. O pobre, por mais desprovido que ele seja, ele sabe que tem a televisão, tem o computador, ele pode acessar um computador numa lan house qualquer. Que tem o celular e toda a tecnologia. Então, ele está observando essa disparidade, e a ausência da educação. Mas ele está observando que o poder continua acima de toda a pobreza. Isso não é só no Brasil, é em Bangladesh, em toda parte do mundo.
O computador não veio diminuir a pobreza. Ele veio multiplicar a pobreza. Multiplicar a riqueza, por um lado, e a pobreza por outro, separando as duas fases. É bem verdade que a tecnologia ajuda na cura de muitas doenças, mas essa doença não é estatal. Só quem pode pagar a cura de um câncer é quem tem o poder aquisitivo maior do que quem ganha um salário mínimo. Como no meu caso. Eu ganho um salário mínimo.
RP - Aí esse pobre entra talvez em desespero.
Falves - Ele não só entra em desespero, mas ele vai entrar em revolta. Em seguida, ele vai entrar em revolta. E isto já está acontecendo. É por isto que continua os assaltos em toda a cidade. Basta você ligar os jornais, na televisão, que você vê diariamente essa continuidade da violência.

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