quinta-feira, dezembro 06, 2007

Falves Silva e o relevo do Poema Processo

RP - Eu aproveito e faço aquela pergunta sobre o consumo de arte na cidade, de maneira geral, e no Estado. Porque aqui as pessoas confundem entretenimento com cultura. Só que aqui a gente depende das instituições. E como você falou, de um governo mantido com o dinheiro do povo. Como você vê isso?
Falves - Eu vejo o seguinte. A cultura no Estado não mudou. Desde a minha juventude que não mudou absolutamente nada. Eu estou com 64 anos. Estou em fase terminal. Estou pensando inclusive fazer a última exposição, porque não adianta. O Rio Grande do Norte não adianta.
RP - Ele é inviável?
Falves - Não é inviável. Não é bem isso. Ela não é viável. Não é que seja inviável. É que não é viável. A arte no Rio Grande do Norte não é viável. Não dá para escapar disso. Conheço todos os artistas da minha geração. Claro que tem exceção, aqueles que já nascem em berço esplêndido. Quem já nasce em berço esplêndido, não tem do que reclamar. Tem só que dar continuidade e estudar. Mas eu, por exemplo, eu continuo na miséria, sou de classe baixa, ganho um salário mínimo, a coisa mais absurda que pode acontecer. Mas isso é natural. Quem ganha um salário mínimo não tem condições de comprar roupa, não tem condições de comprar sapato. Tanto é que eu, só de sacanagem, que eu sou um pouco anarquista, eu digo: "O dinheiro que eu ganho só dá pra tomar cachaça, pagar ônibus e não comer." Isso eu vi num filme francês, onde se dizia: "O salário que eu ganho só dá pra fumar, andar de ônibus e não comer".
RP - E assim é grande número de artistas?
Falves - É. Um grande número de artistas, que mal sobrevive. Mas não é um número pequeno, não. É grande. Tem sim. Eu diria que o próprio Newton Navarro morreu esquecido. O sistema político, educacional e artístico da cidade. Eu acho que a gente deveria inclusive dar mais ênfase, agora, a Dorian (Gray) enquanto ele está vivo, que é um grande artista. E não deixar pra depois. Porque vamos correr o risco de, com esse excesso de folclore, quem faz arte hoje ficar esquecido. Hoje, você fica esquecido. Você está fazendo reverência ao passado.
RP - Só se lembra quando o cara morre.
Falves - Quando o cara morre.
RP - Como no caso de Elino Julião.
Falves - Pronto. Elino Julião.
RP - Quando morre vira um santo.
Falves - Quando morre vira santo. Essa coisa do folclore. É bom ressaltar, eu não estou indo de encontro a quem faz um folclore certo, como no caso Elino Julião, que é um dos últimos descendentes da música genuína nordestina. Quer dizer, um dos últimos que tem uma obra linear e dentro do conhecimento dele e da influência que ele teve, que é de Jackson do Pandeiro. Eu tenho a maior admiração por ele. Mas, por exemplo, eu admiro outros. A minha grande admiração hoje é Tom Zé. Ele faz uma mistura do folclore com a modernidade. E isso é necessário.

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