quinta-feira, dezembro 06, 2007

Falves Silva e o relevo do Poema Processo

O EROTISMO NA OBRA DE FALVES
RP - Uma coisa que você usava muito, e que ainda usa, gosta muito, é o sexo. A expressão sexual.

Falves - É isso. É porque o erotismo libera. A liberação do mais forte ego do indivíduo é o erotismo. Em alguns dos meus trabalhos, eu procuro. A respeito disso, a Yoko Ono esteve agora em São Paulo e foi barrada uma obra dela onde tinha uma vagina. E ela disse: "Eu não sei por que as pessoas condenam tanto uma vagina, e todo mundo saiu de uma." Por que condenar? Por que não ver, né? Ela disse isso numa matéria da Veja, na semana passada.
RP - Vamos falar idealmente. Porque, quando o artista chega ao poder, ele então tem condições de fazer as coisas. Então, idealmente, como seria essa comemoração para você?
Falves - Pra mim, especificamente, já houve um prêmio. Eu já recebi. Eu recebi um prêmio, de dois amigos aqui na cidade, que foi Ivan Júnior, da Off-set, e Alexandre Oliveira, da Arte & Argumento, que fizeram, no início desse ano, um calendário, onde eu passei o ano todo fazendo exposições. Então, isso pra mim é um prêmio superior. Por exemplo, esse prêmio que o Diário de Natal dá (Prêmio Cultura), eu acho que é uma besteira. Deveria era mandar o artista pra São Paulo, passar uma semana em São Paulo, passar uma semana em Nova York nos museus, estudando. Porque é bancado pela Petrobras, pela Cosern, pelo poder municipal, pelo poder estadual e pelo poder federal. O artista merece ser reconhecido na sua cidade. E não dar uma estatueta, que não tem nenhum significado. O Oscar, pelo menos, tem um significado, que é de ouro. Mas, como é que você vai receber uma estátua de bronze?
RP - E ele fica ali, no mesmo canto dele.
Falves - Fica no canto dele. Este é o chamado "consolo para rola murcha". Você já ganhou o seu prêmio, você já tem o seu significado. E tem uma coisa. Eu estou falando sobre o Diário de Natal, mas o problema é o seguinte: o Diário de Natal passa dois meses com os empresários falando sobre o prêmio, e o artista só vai aparecer lá no fim. Vai aparecer o cara que ganhou. Mas se passaram dois meses falando. Dois meses antes e dois meses depois.
RP - E a obra dele às vezes nem é conhecida.
Falves - Nem é conhecida. Ninguém nem se liga. Só sabe o nome. E quem tem, tem. Quem não tem, não tem. É chamada de obra única. O objeto único. A pintura, por exemplo - eu estou dizendo isso, mas Décio Pignatari já disse isso. A pintura está em extinção. O objeto único é uma coisa. Por exemplo: você compra uma obra minha. Você coloca o meu trabalho lá na sua casa, e na sua casa vão umas cinco pessoas. Seus amigos. Então, a comunicação é muito restrita. É diferente do início do século passado. No século passado, era completamente diferente. Picasso é uma coisa. Mondrian é outra. Todos os outros são outra coisa. O negócio é você comprar um objeto, por saber que é aquilo é uma obra de arte. Que tinha uma validade. Mas isto, no início do século passado. Nós estamos no século 21.

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