quinta-feira, dezembro 06, 2007

alves Silva e o relevo do Poema Processo

RP – Essas comemorações de 40 anos do Poema Processo se dão durante todo o ano de 2007?
Falves Silva - Eu, particularmente, de 10 em 10 anos faço essa comemoração. Eu, particularmente. Então, em 77 eu fiz uma comemoração, junto com Anchieta Fernandes e J. Medeiros. Em 87, fiz junto com Dácio Galvão. Em 97, fiz junto com Bianor e Fábio di Ojuara. E, agora, em 2007, estou fazendo uma homenagem a Álvaro de Sá, por ocasião do Encontro Natalense dos Escritores, promovido pela Capitania das Artes e Prefeitura do Natal, entre 22 e 24 de novembro, no Largo da Rua Chile, que contou com uma exposição sobre o Poema Processo). Álvaro de Sá é um poeta carioca, já morreu, é um teórico, do início do movimento. Teórico e produtor. É um dos teóricos do movimento. Além dele ser embasado dentro do movimento, faz a teoria e a prática. A prática do poema. E a prática teórica. O que eu estou fazendo são as versões. A questão do poema processo... Enquanto na literatura tradicional se faz a tradução, no poema processo se faz a versão. O poema processo permite a versão. Então, o poema processo só se concretiza com uma versão do leitor. Daquele que está recriando o trabalho do outro. Quando ele encontra o consumidor dele mesmo. Ele será sempre consumido. Nunca tem um estágio de parar. O poema processo sempre deixa o espaço para que o outro crie. Para que o leitor dê continuidade a um determinado poema de um determinado artista, de um determinado poeta. Eu estou fazendo essa homenagem a Álvaro de Sá, especificamente, mas estou também fazendo versões de Anchieta Fernandes, de Moacy Cirne, e minhas mesmo. Porque eu vejo o seguinte: os poetas têm medo de interferir na obra do outro. E a obra de arte deve ser interferida por outro, pelo poeta seguinte, pelo artista seguinte. Esta é a minha opinião particular, mas está dentro da teoria do poema processo, que é permitido perfeitamente isto.
Você não pode entender um poema processo sob o ponto de vista da literatura tradicional. Você tem que entender o poema processo sob a teoria do poema processo. Há uma diferença. "Ah, eu vou entender o poema processo pela linguagem tradicional." Você não vai entender. Como você também não pode entender o cinema pela via tradicional. O cinema é uma arte 95% visual. O texto das imagens é relativamente pouco. O texto de um filme é coisa pouca. A imagem é o que conta mais. Como na fotografia. A fotografia é 100% imagem. O poema processo ainda tem recurso de palavra, mas ele tem um apelo muito forte no signo não verbal. Na não-verbalidade. (Foto de Antonius Manso: Falves Silva.)

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