quinta-feira, dezembro 06, 2007

Falves Silva e o relevo do Poema Processo

EVOLUÇÃO DO POEMA PROCESSO NOS 40 ANOS
RP - Dentro desse período de 40 anos, como você viu a evolução do poema processo?
Falves - A evolução do poema processo. É preciso lembrar que nós estamos em plena ditadura militar, 1967, onde a expressão da arte foi podada. Toda ela foi podada, em todos os aspectos. A música foi podada, a poesia foi podada, a pintura, o cinema. Você teria que dar um outro contexto para ir de encontro a determinadas. O poema processo surgiu exatamente no período de uma revolta. Era uma revolta universal. Você vê que os Beatles estavam surgindo no mesmo período, o Cinema Novo, no Brasil; o "make love, not war"; a liberação das mulheres. Tudo isso tem uma contribuição universal. Neste momento ainda não tinha televisão aqui em Natal. Mas a gente estava sabendo o que acontecia em torno do mundo. Então, nós, através de Moacy Cirne, que foi quem fez o elo entre Natal e Rio de Janeiro, Moacy trouxe a teoria da poesia concreta em 66. No ano seguinte, a gente eclodiu esse movimento do poema processo, em parceria com o pessoal do Rio de Janeiro, para que esse movimento desse uma espécie de continuidade à poesia concreta, que tinha surgido dez anos antes, em São Paulo. Porque, na realidade, o surgimento do poema processo vem de uma divisão de Vladimir Dias Pino e Álvaro de Sá, no Rio de Janeiro. Já lá no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro e São Paulo não casam muito. Todo mundo sabe disso. E a história da literatura brasileira sabe desses pormenores. Então houve também uma briga. Quer dizer, uma briga, não. Uma briga não, uma cisão, entre os poetas de São Paulo e Vladimir Dias Pino, que morava no Rio de Janeiro.
Então, esse é um momento histórico, por sinal. O único movimento histórico no Rio Grande do Norte, planejado e planificado, de uma maneira esquemática, como teria o Futurismo, como teria sido o Dadaísmo, como teria sido o Destill, da Alemanha, ou a Bauhaus e, ele foi estruturado. Como também foi estruturada a Semana de Arte Moderna de 22, que é de onde vem, de Oswald de Andrade, especificamente, essa tendência dessa modernidade. Com o cinema. Eu, pelo menos, toda a minha universidade foi o cinema. Então, o cinema é imagem pura. Fotografia. O jornal, o jornalismo. A imagem, com a sua força.
E toda essa tentativa de descoberta das artes. Que é, por exemplo, o Charles Pierce, que é o iniciador da Semiótica, que está em cima do cinema, está em cima da poesia visual. Está em cima da não-verbalização, o excesso de verbalização. Isso não quer dizer que a palavra não tenha nenhum significado, não. Não, ela tem um significado, mas é preciso usar adequadamente. A palavra, na realidade, só pode ser usada por poetas de grande qualidade. Por exemplo, João Cabral de Melo Neto é um grande poeta. Isso é inegável. Ele sabe como colocar a palavra no contexto certo, na hora certa. Como os Irmãos Campos, da Poesia Concreta, Décio Pignatari. Todos eles têm a sua força de expressão. O Poema Processo é uma dissidência - essa é a minha opinião particular, talvez outro não tenham a mesma opinião -, mas eu acho que o poema processo vem da poesia concreta. Isso aí é inegável. Eu mesmo continuo gostando dos poetas que fazem a poesia concreta.

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