terça-feira, outubro 23, 2012

Ah, as nossas elites!


Ah, as nossas elites!
Jornal de Hoje /// Ilustração
Natal / RN, Data: 13 julho 2012
 Por: Vicente Serejo

Há quem não goste Senhor Redator, mas é verdade: não temos elites. E temos, se alguém chamar de elites os nossos ricos de toda espécie. Muitos deles, mas não diria todos, com passados fincados no Estado nutridos daqueles malabarismos como o perdão de dívidas nas secas, Sudene, reflorestamentos, estradas, obras públicas e que tais. Afastados estes, restariam poucos dotados de uma boa e bela história de vida para contar, se viver é também exercer a consciência de que liderar é construir novos destinos.

Os financistas no seu pragmatismo justificariam: somos economicamente pobres. Seria perfeito se não fosse uma falácia bem urdida. No passado éramos mais ainda, no entanto, tivemos consciência coletiva. E se ali existiu uma oligarquia pensante há de ter sido a Albuquerque Maranhão liderada por Pedro Velho. Não temeu a modernidade com medo de perder espaço e poder. Proclamou a República entre nós, fundou um jornal para discutir idéias, formou algumas gerações, foi uma verdadeira escola.

O Rio Grande do Norte vive hoje a mais medíocre de todas as gerações políticas. Da guerra do caju até hoje, nesta ilharga da Fortaleza dos Reis Magos e neste descampado de tabuleiros, nunca fomos tão pobres de grandeza. A geração que desapareceu pode ter tido aqueles defeitos inevitáveis da política, mas tinha inegável espírito público. Seus talentos não nasceram nas folhas dos inventários e dos formais de partilha como herdeiros de riqueza. Pelo contrário: tinham até medo de não realizarem o bem feito.

O que eles fizeram? Uma república para o voto livre. Jornais para o debate das idéias. Uma escola para educar a mulher. Uma universidade. Um hospital infantil. Um educandário para menores pobres. Educação rural e através do rádio. Energia de Paulo Afonso. A exploração de novas riquezas. A busca do turismo na geração de emprego e renda. E o que fazemos hoje? Vamos às urnas para empregar filhos que se sucederem a seus pais, e mesmo que o façam com gosto, serão no máximo bons herdeiros.

Nem o timbre e o tino dos velhos coronéis, sagazes e astutos, fundadores de vilas e povoados, temos mais. Neste descampado de talentos sobrou muito pouco como semente para se plantar um novo futuro que não seja este que hoje se reproduz todos os dias. Até a Universidade, nosso maior centro de idéias e pensamento, cumpre aquele destino perverso de transformar a prática da libertação e discussão em apenas, e pobremente, como disse o filósofo Luis Felipe Pondé, ‘num lugar de miséria intelectual’.

Não temos saída Senhor Redator. Pelo menos por enquanto. É o que nos aguarda nos próximos anos. Nenhum novo talento fere a monotonia do nosso céu político. Somos pardos e parcos em tudo, menos em grifes, signos luxuosos, ostentação. Tão pobres que extirpamos o pudor de nossa consciência crítica. Afinal, seria terrível ter que enfrentá-lo todas as manhãs, quando a vida tem gosto de pasta.  É como se disséssemos a uma só voz: ao lixo a discussão das idéias, a contradição, a liberdade de pensar!

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