quarta-feira, setembro 07, 2011

A riqueza do mar e a redenção de Macau




FM – Na questão das cooperativas de pescadores, existem algumas que deram certo, mas aqui em Macau, houve uma tentativa de criar uma cooperativa de pescadores e foi um fracasso, porque terá sido? Sabemos que existem cooperativas em outros Estados que funcionam a contento, como por exemplo, no Rio Grande do Sul, existem cooperativas de frutas. Será uma questão de educação dos pescadores ou dirigentes sindicais?
EA – São conjuntos de fatores que tem contribuído pelo fracasso dessa área, mas os núcleos de pesquisa, essa política e os nossos institutos, principalmente nos campi onde se desenvolve a pesca, estão imbuídos desse espírito cooperativista, e nó, na Rede Federal, nos nossos núcleos de pesquisa, temos pessoas especializadas. Já estamos trabalhando nessa área, no sentido de capacitar os pescadores, dando conhecimento tecnológico, falando da importância da cooperativa e no que vem a ajudar. Nós já temos experiências. Por exemplo, nós já temos uma experiência em São João da Barra. A pesca lá é oceânica e os maridos pescadores vão pra mar, passam entre 15 e 20 dias e as pessoas com as crianças ficam em terra. A baixa estima dessas mulheres ficava lá em baixo. Quando os maridos retornam, muitas vezes o que ganharam não dá pra pagar o que gastaram pra levar e o que deixaram pra família. Então fica esse circulo vicioso, que chamo de escravidão do séc. XXI, que está trelado aos atravessadores. Nossa política tem trabalhado nesse sentido de superar esses atravessadores. Para isso nós criamos e estabelecemos cooperativas, mas lá é uma cooperativa que vai dar educação elevação de escolarização com qualificação profissional. Analfabetos fizeram cursos de alfabetização, demos cursos de processamento de pescado, boas práticas, e isso começou a gerar trabalho e renda para as mulheres. Quando os maridos retornavam do mar, notavam mudanças em sua residência, a casa estava bonita, já tinha outros utensílios como geladeira, telefone, televisão, as crianças com roupa nova, a mulher tinha tomado um banho de loja, colocado dente, arrumado o cabelo. Isso me deu um problema porque começou a gerar ciumeira dos maridos, pois pensavam que o Ricardão tinha passado por lá na ausência. Tivemos que fazer uma reunião e dizer que o Ricardão era a política de formação humana. Um colega meu brincando, dizia que o Ricardão era o Edimarzão e eu dizia que não dissesse uma coisa dessas senão iam me matar. Mas até eles, os pescadores foram fazer o curso e hoje estão lá, exportando. Então nossos núcleos trabalham com cooperativismo, estabelecendo boas práticas, processamento do pescado, gestão e comercialização, que são os dois gargalos desse processo. A importância dos nossos cursos aqui no Instituto, já está repercutindo, nem bem formamos a primeira turma, já temos mais de quatorze alunos fazendo estágios em empresas. Ha alguns dias tivemos uma notícia. Temos um aluno que foi fazer um estágio em uma empresa Produmar, em Natal. Ele ainda não terminou o estágio, mas já está visado para ser contratado. Hoje ele ganha setecentos reais (R$ 700,00) como estagiário, mas o salário dele após a conclusão do estágio já como técnico, estar de mil e oitocentos reais (R$ 1.800,00), ou seja, recém-saído da fornalha já passa a ter seu trabalho reconhecido. Isso demonstra que não podemos mais trabalhar como antigamente, porque o mundo avançou, precisa de novas tecnologias e nós estamos fazendo essa transferência de tecnologia e conhecimento, ou seja, eles aprender nos nossos laboratórios, na teoria e na prática e no exercício do estágio, o aluno coloca em prática tudo que aprende, e com isso vai melhor à produção e a qualidade dos produtos. Era o que o Brasil estava precisando, de técnicos.
FM – No final dos anos 90 a Petrobras criou o Projeto Marambaia, que consistiu na criação de recifes artificiais, o RAS, por meio de colocação de contêineres metálicos numa área a 10 milhas da costa, aproximadamente. Como você vê um projeto dessa natureza para os pescadores da região?
EA – Tudo isso vai depender de capacitação também, hoje sempre digo que não adianta você dar o peixe se não ensinar a pescar, não adianta você dar o dinheiro e não ter gente capacitada. É discutido muito isso, a gente tem que analisar caso por caso porque ai envolve uma série de conhecimentos ambientais, preservação, equipamentos, etc. A frota pesqueira no Brasil está sucateada. Nossos pescadores não têm equipamentos pra está enfrentando o tempo todo a distancia do mar. O que temos é frota artesanal. Em outros países já aconteceu isso, mas essa metodologia é discutida, porém se tem outra infraestrutura, tanto é que esse projeto da Petrobras, pelo que se, não vingou, justamente pela carência e despreparo. O gargalo de todo processo da pesca, como sempre coloco, é a questão da qualificação profissional, do preparo do homem para o mar, para que eles possam usar de uma forma mais racional, ora eles tenham um conhecimento extraordinário. Nós temos um projeto chamado Certific, que vai certificar os saberes e a pesca é o que está mais adiantado. Percebemos porque esse projeto da Petrobras não frutificou, me parece que acabou, mas é exatamente pela conjunção pela carência em todo esse processo. Esse problema de lançar navios sucateados que não presta mais pra nada, isso aconteceu em outros países, mas pelo que estou sendo informado, não continua, não deu também bons resultados, foi um modismo da tecnologia.

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