quarta-feira, setembro 07, 2011

A riqueza do mar e a redenção de Macau



FOLHA DE MACAU – Como se enveredou pelos caminhos da pesca?
EDMAR ALMEIDA – Meus avós maternos eram pescadores no Pará e eu quando criança, pescava com meus avós, com meu avô que me ensinava. Eu não quis uma carreira universitária, porque eu disse que queria ficar no Ministério da Educação para desenvolver projetos de cunho e alcance nacional de inclusão social e transformação. Antes de ir pra Constituinte, desenvolvi um trabalho com a Universidade do Pará de interiorização daquela universidade. Fizemos a interiorização e quando estava na constituinte tive a ideia de colocar um dispositivo constitucional que obrigasse as instituições públicas irem pra o interior. Eu não era deputado, não podia, mas redigia as emendas e meus amigos da Comissão de Educação, quiseram colocar e nós colocamos. Era o art. 60 parágrafo único das disposições transitórias constitucionais, que obriga as universidades por um período de dez anos e as instituições públicas irem para o interior com ensino, pesquisa e extensão, foi quando começou a interiorização das universidades que hoje está no ápice. Então retornei pra SESU-MEC e fui coordenar a interiorização das universidades federais e estaduais de todo país e ao chegar na SETEC, que antigamente chamada de CEFET, comecei a interiorização das escolas técnicas através das escolas agrotécnicas e hoje temos toda essa interiorização que é o espírito constitucional contido naquele velho dispositivo, que hoje não existe, foi modificado. No período de dez anos isso foi feito, isso nós fizemos uma reunião em 1998 para avaliar essa interiorização, isso veio aos poucos e com o governo Lula houve esse processo de expansão e interiorização. Por que tudo isso? Porque nós sempre acreditamos que não existe desenvolvimento sustentável sem uma base educacional. Eu, como conhecedor da Amazônia e do resto do país que tive a oportunidade de conhecer, eu sabia que a gente tinha que ir pra o interior, descentralizar a educação que estava centrada nas universidades dentro das capitais. E as famílias pobres, como ficariam? Eu tive um exemplo claro disso, quando cheguei no Acre para fazer a interiorização daquela universidade, conheci os bolsões de miséria daquela população, ou seja, as famílias fugindo do interior porque não tem trabalho e nem estudo, iam pra Rio Branco, não tinham uma profissão, então moravam em cortiços, favelas. Daí era um passo para as filhas se prostituírem, os filhos caírem nas drogas ou na cracolândia como dizemos hoje e com a interiorização, nós democratizamos na prática, as oportunidade para que todos os cidadãos brasileiros pudessem frequentar uma escola. Olhe aqui o Campus IFRN Macau e assim por diante, em todo nosso país. 
FM – Qual a importância da pesca para a economia do RN?
EA – Vou continuar respondendo uma pergunta anterior, de como eu entrei na pesca. Com a chegada do professor Eliezer como secretário da SETEC, ele chamava a gente no gabinete e mostrava o mapa do Brasil e dizia: olhem aqui, nós temos 8.500km de litoral. Na época nós tínhamos cinco cursos técnicos no país na nossa rede, que já tinha cem anos. Um curso era dado lá em São Gabriel da Cachoeira do Alto Rio Negro, na cabeça do cachorro, como a gente chama, dois em Belém, um na Bahia em Valença e outro em Alegre, no Espírito Santo. Descobri mais um que era em Itajaí, isso em 2006. Incumbiram-me de desenvolver uma política nesse sentido. Redigimos um acordo de cooperação com o Ministério da Pesca que era antes FEAPI. Foi assinado pelos Ministros da Educação, da Pesca e pela Secretaria de Educação Profissional, professor Eliezer e eu testemunhando. Essa política chama-se Política de Formação Humana na área de pesca marinha, continental e aquicultura familiar, acrescido depois com outro acordo com Portos e Navegação. Como eu tinha uma vocação desde pequeno para pesca, como já disse que aprendi a pescar com meu avô quando criança, aquilo ficou e eu sempre queria desenvolver uma ação nacional e uma foi à interiorização, os cursos noturnos, tanto nas universidades como nas nossas escolas técnicas, os CEFET´s, agora Institutos, hoje é uma tranquilidade os cursos noturnos fui eu e a outra foi com a pesca, que veio a calhar. Então foi uma forma de eu resolver e realizar um antigo desejo de infância. Então hoje, essa política, em três anos já colocou mais de setenta e dois (72) novos cursos no país, na nossa Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.

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