sexta-feira, setembro 05, 2008

Morre Fausto Wolff

Obituário: Fausto Wolff,
escritor e colunista do Jornal do Brasil
Jornal do Brasil
RIO - Morreu nesta sexta-feira, às 21h, o jornalista e escritor Fausto Wolff, de 68 anos, colunista diário do Caderno B do Jornal do Brasil.
Ele fora internado na CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana, no último domingo, 1º, com hemorragia intestinal. Entrou em coma com quadro de insuficiência respiratória. Deixa a mulher, a psicóloga Monica Tolipan e duas filhas.
O escritor Ruy Castro, amigo de quatro décadas, definiu a falta que Wollf vai fazer:
– Houve época no Rio em que todos os homens queriam ser Fausto Wolff. Pela inteligência e pelas mulheres que ele conquistava.
Nascido em 1940, em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, Faustin von Wolffenbüttel teve infância pobre. Começou a trabalhar aos 14 anos como repórter policial e contínuo do jornal Diário de Porto Alegre.
De família humilde, mudou-se para o Rio aos 18. Tornou-se jornalista em 1954 e passou por momentos históricos no jornalismo, fazendo parte da turma que editou o primeiro O Pasquim, a partir de 1969.
Também esteve por trás da volta do jornal O Pasquim 21, no começo da década. Além do jornal, também atuou como diretor de teatro e cinema e professor de literatura nas universidades de Copenhague e Nápoles.
Escreveu vários livros, entre romances, livros históricos e compilações de crônicas, entre eles Cem poemas de amor e uma canção despreocupada, A imprensa livre de Fausto Wolff, O acrobata pede desculpas e cai e seu último livro, A milésima segunda noite, lançado em 2005 pela editora Bertrand Brasil.
- Seus livros evocam uma certa fantasmagoria de ordem interna típica de Edgar Allan Poe: o horror que vem de dentro do ser, pasmo ante um mundo calcado em conceitos de realidade que não admite - declarou o escritor Fernando Toledo sobre sua obra.
Entre livros e traduções
Também se responsabilizou por traduções de livros, como Detonando a notícia: Como a mídia corrói a democracia americana, de James Fallows. Foi agraciado com o Prêmio Jabuti com o romance À mão esquerda.
Em áreas mais leves, também editou volumes das célebres Anedotas do Pasquim, lançadas pela editora do jornal, Codecri.
Ultimamente, mantinha o site O Lobo (http://www.olobo.net), com compilações de seus textos, e fazia uma coluna diária no Caderno B, para o qual veio trazido pelo chargista e escritor Ziraldo, a quem conheceu ainda na época do Pasquim. Lá, lançava mão de personagens como Natanael Jebão, que popularizou. Diariamente, criticava a mídia e novidades como o celular e o computador.
– Vai chegando a hora em que a turma vai indo embora – lamenta Ziraldo.
- Brigamos muito, nos amamos muito, vivemos muito juntos, muito separados. É como um irmão desgarrado que morre. Ao lado de Dalton Trevisan e Rubem Fonseca, Fausto era um dos melhores contistas do Brasil. Era também um excelente romancista. Era um gênio como autor de contos. Escreveu primorosamente como jornalista.
Também atuou em áreas diversas áreas (escreveu textos para revistas como Status, nos anos 70, apresentando programas como Fantástico e Globo Repórter) e apresentou programas na TVE, atual Rede Brasil. A notoriedade lhe trouxe muitos admiradores.
– Fausto era um homem rigoroso e muito abusado, abusava da saúde, bebia muito, ninfomaníaco – diz o amigo Chico Caruso.
– Tinha parado de beber há mais de um ano, estava tomando só guaraná. A gente é como lâmpada, um dia queima. Era muito bom escritor, as crônicas dele no Jornal do Brasil eram ótimas, inteligentes e atuais. Era da geração do Pasquim, de um Rio de Janeiro que passou por revoluções no jornalismo.
Torres exalta como grande característica de Wolff o fato de sempre ter se colocado na contramão das tendências
– É a minha geração que está indo embora. É muito triste e preocupante – chora o escritor Antonio Torres.
– Ele era um escritor muito combativo. Parecia um sujeito muito brigão, mas, na verdade, na relação pessoal, era afetuoso. Eu via o Fausto Wolff como um menino grande. Tinha muito afeto por ele, embora tivéssemos convivido muito pouco. Era uma relação respeitosa e afetuosa, porém distante. Eu o acompanhava muito, principalmente na última fase, no JB, quase que diariamente. Ele se colocava na contramão das tendências, das modas, de tudo. O que me parecia absolutamente necessário.
O chargista Nani, que trabalhou na Bundas e no Pasquim 21, diz que Wolff era um dos últimos jornalistas a empunhar a bandeira de ser destemido do país.
– Ele acreditava no jornalismo de opinião, de denúncia. Nunca se curvou aos poderosos , sem perder o humor. Estivemos juntos em veículos alternativos e no JB.
A coluna de Fausto Wolff publicada hoje, no Caderno B, é repetida devido à sua doença. Seu último texto é de 21 de agosto, em que se candidatava a presidente da república:
"Há anos que a turma do Bunda de Fora e do Academia Brasileira da Cachaça insistem neste ritual pacífico, fingi que pensaria no assunto. Concluí que poderia dar maior felicidade a mim e ao povo em geral".
Fausto Wolff - 1940 - 2008
[23:06] - 05/09/2008

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