quinta-feira, abril 12, 2012

TJRN: O cerco se fecha

Desembargador Osvaldo Cruz: "O desembargador foi muito claro: 'Eu não quero saber a forma como foi retirado. Resolva essa parte e quando você estiver com a verba venha pra cá que a gente divide'".

Dinheiro sem dono
Foi nessa época que ela percebeu que o setor funcionava de forma desorganizada. Antes todos os depósitos eram feitos em uma conta do Banespa, e o TJ teve que mudá-la para uma conta do Banco do Brasil. "Percebi que havia um valor em dinheiro dentro da conta dos precatórios não vinculado a nenhum processo e levei o problema ao desembargador Osvaldo Cruz. O valor era mais ou menos de R$ 1,6 milhão, e o desembargador concluiu que esse dinheiro não tinha dono. Ele perguntou qual a melhor forma de retirar essa verba, trabalhar esse dinheiro, usar a verba em benefício próprio. Eu disse que tinha como ser feito, usando a mesma numeração de outro processo, mas que o pagamento não poderia ser feito da mesma forma [que outros processos]".
O pagamento era feito em cheque, depois mudou para guias de depósito judicial, mas a retirada se manteve da mesma forma. "É como se tivéssemos vários cheques em branco assinados. Procurei meu marido George, e disse que teria que dividir o dinheiro em várias contas, em vários cheques. Por isso recorremos às contas. Cláudia forneceu a conta dela, George a da empresa dele, Glex [Empreendimentos], e o Fanasaro também. Dizíamos que o dinheiro era de medição, ou precisávamos agilizar uns pagamentos de pessoas que vinham do interior", afirmava. Carla é incisiva sobre a participação do desembargador Osvaldo Cruz: "O desembargador foi muito claro: 'Eu não quero saber a forma como foi retirado. Resolva essa parte e quando você estiver com a verba venha pra cá que a gente divide'".
Com a mudança na presidência do TJ, em 2009, o Poder Judiciário passou a ficar nas mãos do desembargador Rafael Godeiro. O esquema de fraudes continuou na gestão dele. "Ele não gostava dos Ubaranas. Haviam quatro nomeados no TJ, mas eu fiquei. Ele disse que teria que me engolir. Depois, chegou até mim e disse que tinha conversado com o desembargador Osvaldo e que já sabia como funcionava o setor de Precatórios, e qual a parte de Osvaldo. Daí eu percebi que ele já sabia do esquema", contou. A partir de então, o dinheiro desviado passou a ser dividido entre três pessoas: ela e os desembargadores Osvaldo Cruz e Rafael Godeiro. "Todo o valor que eu levava em minha bolsa ao Tribunal era para entregar aos desembargadores. Eu sempre ficava com a menor das três partes". Ubarana confirmou a autoria dos manuscritos divulgados pela imprensa.

Judite Nunes é isenta de culpa
A desembargadora Judite Nunes, presidente do TJ-RN desde o começo do ano passado, desconhecia as fraudes e não participou do esquema no setor de precatórios, segundo Carla Ubarana. Ela afirmou que o desembargador Osvaldo Cruz chegou a perguntar se havia possibilidade de continuar com o esquema na nova gestão. "Disse que tinha porque eu tinha muitas guias em branco. Mas em nenhum momento a desembargadora Judite participou. Tenho certeza que ela não sabia", relatou.



"Sei que estou correndo risco de vida mesmo", disse Carla em relação às ameaças de morte sofridas na cadeia. Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press

Carla afirmou que as fraudes continuaram sendo feitas por pelo menos 10 meses já durante a gestão da desembargadora. Só que o esquema começou a 'melar' porque faltaram as guias em branco e Judite Nunes se negou a assiná-las sem estar preenchidas, exceto em duas ocasiões, quando ela iria precisar em horários de almoço, e na véspera de uma edição do Justiça na Praça. Em novembro de 2011 a ex-chefe do setor afirmou que Judite Nunes nomeou dois assessores, que começaram a pressioná-la. São eles Luiz Alberto Dantas Filho e Guilherme Pinto.

Ameaças de morte
A servidora também afirmou que já sofreu ameaças. Durante três dias consecutivos ela foi ameaçada de morte, durante o tempo em que esteve presa. "Tanto eu quanto meu marido, fomos ameaçados dentro e fora da delegacia. Houve situação em que o próprio Bope estava lá em casa e perseguiu um carro que seguiu minha mãe. Como sei que estou falando de pessoas que não têm o menor escrúpulo, agora sei que estou correndo risco de vida mesmo", desabafou ela.
"Dissemos aos nossos amigos e familiares que o crescimento do nosso padrão de vida se dava por causa dos negócios de George. Nunca falávamos nos precatórios". Ao final de uma hora e quarenta e seis minutos de depoimentos, Carla disse que se arrependia das fraudes, principalmente por ter envolvido os 'laranjas' do esquema. "Só que era muito dinheiro. Por isso não parei. E era acobertada por pessoas que tinham mais poder do que eu", ressaltou. (Fonte: Diário de Natal)

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