sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Assembleia discute falta d´água em São Paulo

Audiência pública na Assembleia Legislativa de SP debate crise hídrica
Participantes debateram e apresentaram propostas de curto e longo prazos.
Para especialistas, a situação 'é bastante grave'.
FACEBOOK - 06/02/2015 00h16 - Atualizado em 06/02/2015 00h16


 Dezenas de pessoas participam de audiência pública sobre a crise hídrica no Auditório Franco Montoro, na Alesp (Foto: Marcelo Mora/G1)

A crise hídrica em São Paulo que afeta a região metropolitana e parte do interior de São Paulo foi objeto de uma audiência pública na Assembleia Legislativa, na região do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, no final da tarde e noite desta quinta-feira (5).

Especialistas, políticos, funcionários da Sabesp e representantes de movimentos sociais e de preservação do meio ambiental debateram, no Auditório Franco Montoro, o tema ao longo de mais de quatro horas, apontando os motivos que levaram à escassez de água nestas regiões e apresentando propostas para tentar minimizar os efeitos da crise.
Não participaram do evento representantes do governo estadual e nem da Sabesp. Também não compareceram integrantes de órgãos específicos do setor, como Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e Agência Nacional de Águas (ANA), e nem políticos da situação e da base de apoio a Geraldo Alckmin no legislativo estadual.

“A Assembleia tem de fazer esse debate, tem de apresentar soluções, tem de ouvir a população, essa é a primeira questão. Outra questão é que estamos ouvindo, coletando propostas para sair desta crise. Movimentos sociais, técnicos, funcionários da Sabesp, representantes das universidades públicas estão trazendo muitas propostas interessantes aqui”, afirmou o deputado estadual Carlos Giannazi, do Psol, que coordenou os trabalhos na mesa de debates.
Especialistas do setor esboçaram um quadro bastante crítico para o abastecimento deste recurso para os próximos anos.

“A situação é grave”, resumiu Antonio Carlos Zuffo, professor da área de hidrologia e gestão de recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Uma das propostas apresentadas por ele em sua apresentação foi a de usar a água ‘bruta’ da Represa Billings para atender as cerca de seis milhões de pessoas abastecidas pelo Sistema Cantareira.

“Se acabarem as três cotas do volume morto do Cantareira nos próximos meses, não haveria outra alternativa. Poderia ser feita a desinfecção da água da Billings para que a população pudesse utilizá-la em descargas, para limpeza e tomar banho. A água teria cheiro mas dá para usar. Outra parte da Billings iria para o Sistema Alto Cantareira, onde seria tratada. Essa água tratada, potável, teria de ser distribuída pela Sabesp em lugares públicos, como praças, por exemplo”, explicou.

Segundo Zuffo, em relação à Billings, o principal ‘gargalo’ no momento seria, na verdade, a capacidade de tratamento da água da represa.

O engenheiro civil e sanitarista José Roberto Kachel do Santos, que trabalhou por 34 anos na Sabesp, afirmou, por sua vez, que “a situação é muito crítica”. Ele apresentou gráficos para ilustrar de que forma o Sistema Cantareira foi quase exaurido. Na média anual, foram retirados 24,18 metros cúbicos do sistema em 2014. Em contrapartida, as represas receberam apenas 8,75 de metros cúbicos, um terço do que foi retirado, no ano passado.
“A Sabesp retirou muito mais do que deveria, adotando cenários otimistas, irreais. A questão todinha é essa: a Sabesp não se preparou para o pior e ficou esperando pelo melhor”, sintetizou.
Segundo ele, é muito difícil fazer uma previsão de quando o sistema será normalizado. “Para fazer as contas de entrada e saída foi fácil, porque são volumes já constatados. Agora é um cálculo muito difícil prever quando o sistema irá se recuperar e normalizar, porque depende de muitos fatores, como climáticos e ambientais”, disse.
Dentre as propostas apresentadas por representantes de movimento sociais, estão o tabelamento do preço da água potável e a distribuição de recipientes adequados para o armazenamento deste recurso, com o objetivo de evitar a proliferação de difusores de epidemias, como o mosquito da dengue.
“Não necessariamente a gente precisa de mais água, mas precisamos usar melhor a água”, afirmou Marussia Whately, uma das coordenadoras do Aliança pela Água, que congrega cerca de 50 entidades da sociedade civil com objetivo de contribuir para construção da segurança hídrica em São Paulo.

Um dos três princípios básico defendidos pela coalização é o de que água “não é mercadoria”, segundo Marussia. “O excesso de água, como já vimos no caso de enchentes, provoca solidariedade. A escassez de água, por sua vez, gera disputas”, enfatizou.
Todas as propostas apresentadas na audiência pública serão reunidas em um documento e apresentadas em plenário na Assembleia com o objetivo de elaborar projetos de lei que possam vir a facilitar a implementação das mesmas no futuro, segundo Giannazi.

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