sexta-feira, outubro 16, 2009

Empresários, políticos...

Onde está a direita?
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Folha de S. Paulo
São Paulo, sexta-feira, 16 de outubro de 2009
(Foto: Gilmar Mendes, presidente do STF, e empresário da educação em Brasília)

SÃO PAULO - Não faz muito, Lula festejava, como uma conquista do país, a ausência de "trogloditas de direita" entre os prováveis candidatos à sua sucessão. De fato: Dilma Rousseff, José Serra, Ciro Gomes, Marina Silva... inclua-se Aécio Neves na lista. Nenhum deles caberia no perfil do "troglodita". Quer dizer que não existe direita no Brasil? Ou, talvez, que a direita não esteja representada na política nacional?
Talvez seja útil separar "direita" de "trogloditas". Estes continuam por toda parte, fazendo valer seus interesses. A turma do velho patrimonialismo, por exemplo, encontra-se arrebanhada à sombra do lulismo, protegida e bem alimentada. Sob os tucanos também era assim, de modo menos despudorado.
O Brasil, FHC costuma dizer, é mais atrasado do que conservador. Pode-se pensar em termos de direita e esquerda, mas a política real se explica melhor pelo parasitismo do Estado do que pelo crivo ideológico.
A não ser da boca para fora, o país desconhece a figura do empresário liberal. O capitalismo aqui sempre foi anfíbio, patrocinado pelo Estado -sirva de exemplo o caso caricato das privatizações financiadas pelo BNDES. Bancos e empreiteiras nunca faturaram tanto como agora, na gestão "progressista" do PT. Com Lula, voltou ser de bom-tom mamar no Estado, basta invocar algum "interesse estratégico".
Mas e a direita, onde está? Se por isso entendermos o ideário liberal clássico, para o qual o Estado constitui um entrave à realização do indivíduo e a vida social deve ser regulada pelo mercado, então Lula tem razão: essa direita está politicamente órfã. O antigo PFL tenta ocupar o espaço, mas até mesmo a bandeira pela redução da carga tributária é uma impostura nas suas mãos.
O amálgama da direita é o antipetismo, sobretudo nas classes médias do Sul e do Sudeste. Além da aversão à figura de Lula, essa direita se imagina espremida entre a farra dos ricos e a esmola dos pobres. E culpa o lulismo pela frustração de seus sonhos de exclusividade social. Se hoje vota em Serra, é menos por gosto do que por falta de opção.

Segurança no Rio Grande do Norte

Polícia Civil é ausente
em 77% das cidades do RN

Levantamento do Sinpol também aponta
déficit de 6,5 mil agentes e destaca
más condições de trabalho
Diário de Natal
Natal, 16 de outubro de 2009
(Ilustração)
Levantamento divulgado ontem pelo Sindicato dos Policiais Civis e da Segurança Pública do RN (Sinpol/RN), aponta que o RN tem um déficit de 6.568 policiais civis e que 77,3% dos municípios do estado não têm a presença da Polícia Civil. Em audiência pública realizada ontem na Assembleia Legislativa para discutir as condições de trabalho dos policiais civis, a presidente do sindicato, Vilma Marinho Cezar, também afirmou que há 627 presos ocupando 54 celas das delegacias de Natal e Grande Natal.
Durante a audiência, os policiais também denunciaram más condições de trabalho nas delegacias, como sujeira, mofo, degradação, celas superlotadas, fachadas mal iluminadas, falta de equipamentos modernos e viaturas sucateadas. Na 1ª DP de Parnamirim, 100 presos dividem as seis celas existentes. "Cada cela possui capacidade para abrigar quatro presos e no momento estamos com uma média de 17 em cada cela", informou um policial do local. Além disso, os 45 boletins de ocorrência registrados diariamente têm que ser escritos àmão por falta de equipamentos capazes de realizar essa atividade. Nas delegacias de plantão das zonas Sul e Norte, o único meio de comunicação existente entre os policiais são seus próprios aparelhos celulares, pois não dispõe de rádios para essa finalidade.

Comida
Segundo a presidente do Simpol, Vilma Marinho Cezar, a comida ofertada à categoria não possui os mínimos nutrientes necessários para que os policiais tenham força para aguentar as 24 horas de plantão.
Ela conta que há desvio de função dos agentes da polícia em decorrência da enorme quantidade de presos que lota as celas das delegacias, vivendo em condições desumanas. "Houve caso de um preso que ficou tetraplégico, sem capacidade de se alimentar sozinho e os policiais tiveram que cuidar dele até que alguma providência fosse tomada. Depois de um tempo ele foi transferido mas os outros permaneceram no mesmo local", aponta a presidente do Sinpol.
Para ela, o desvio de função do policial civil reflete sobre a população e atinge o próprio profissional. "Os cidadãos perdem porque o policial fica incapacitado de sair da delegacia para não largar os presos sozinhos e o profissional trabalha desmotivado, sem segurança para ele e exercendo uma atividade que não lhe é atribuída", explica.

"Pocilga"
Para o deputado Paulo Davim (PV/RN), que presidiu a audiência pública de ontem, o problema da limpeza das delegacias é de caráter emergencial. "As delegacias estão parecendo um depósito de lixo e os presos estão vivendo em uma verdadeira pocilga. Houve uma piora considerável nesses aspectos e o estado deve dar condições dignas de trabalho a esses profissionais, pois essa situação põe em risco a vida do policial e representa uma agressão aos cidadãos".

Segurança no Rio Grande do Norte

Saiba mais sobre a segurança
no Rio Grande do Norte


Dos 167 municípios do RN, apenas 38 contam com presença efetiva da Polícia Civil (22,7% do estado).

627 presos ocupam 54 celas em delegacias de Natal e Grande Natal.

Na 1ª DP de Parnamirim, 100 presos dividem 6 celas.

Boletins de ocorrência são escritos a mão porque não há equipamentos.

Agentes têm que usar os próprios celulares para se comunicarem.

Fonte: Sinpol Foto: Home security

domingo, outubro 11, 2009

Um retrato do Brasil na era Sarney

Honoráveis Bandidos - Um retrato do Brasil na era Sarney Geração Editorial, a editora mais ousada do País em instant books, aquece o mercado editorial com um livro-bomba polêmico, histórico e arrasador do jornalista Palmério Dória

“Em 2008, o senador José Sarney (na foto com Agaciel Maia)voltou a ser manchete, principalmente das páginas policiais, quando revelada a organização criminosa da qual seu filho fazia parte. Para não deixar o filho ir para a cadeia, ele teve de disputar no ano seguinte a presidência do Senado. Foi preciso colocar a cara para bater. O poderoso coronel voltou para dar forças aos filhos, para salvá-los”.

Pela primeira vez em livro, um jornalista – Palmério Dória, um veterano do jornalismo investigativo – reconstrói toda a insólita trajetória do ex-governador do Maranhão, ex-presidente da República e atual senador José Sarney. Sua vida, seus negócios, seu destino – presidente da República por acaso – sua família, amigos e correligionários, todos envolvidos numa teia cujos meandros os jornais e revistas revelaram nos últimos meses – sem a riqueza de detalhes e revelações surpreendentes agora contidas em livro.

Obediente às regras do “bom e verdadeiro jornalismo”, Palmério faz um implacável retrato do poderoso coronel de maneira transparente e inteligente. Neste livro o leitor vai saber como Sarney consegue envolver tanta gente na sua teia.

A objetividade, veracidade na descrição de personagens e situações, concisão, originalidade e calor humano fazem da obra uma leitura obrigatória e prazerosa.
“E, para honrar o jornalismo, atualidade absoluta e, ao mesmo tempo, permanência, pois vai girar a roda da história e os pósteros sempre aí beberão em fonte cristalina para conhecer costumes políticos e sociais desta nossa época em que um político brasileiro, metido em escândalos até o pescoço, exerce o poder de fato, acima de qualquer suspeita”, enfatiza Palmério, que fez o livro a quatro mãos com o jornalista e amigo de décadas Mylton Severiano, o Myltainho da revista “Realidade”, dos anos 1960, e da equipe que fundou o “Jornal da Tarde”.

Os dois formaram uma dupla de peso. Enquanto Palmério cuidava da investigação, Mylton fez a pesquisas e reuniu os dados, posteriormente cruzados e checados com rigor.

“Honoráveis Bandidos” contém um caderno especial de 16 páginas com hilariantes charges de nada menos que os irmãos Caruso – Chico e Paulo – sobre o principal ator desta história real. “Sarney sempre esteve na história do Brasil. Não há como descartar o Sarney. Ele sempre foi o mal maior”, responde Palmério Dória ao ser indagado “por que Sarney?”.

É a primeira vez o mercado editorial receberá um livro com toda a história secreta do surgimento, enriquecimento e tomada do poder regional da família Sarney no Maranhão e o controle quase total, do Senado, pelo patriarca que virou presidente da República por acidente, transformou um Estado no quintal de sua casa e ainda beneficiou amigos e parentes.

Um livro arrasador, na mesma linha de “Memórias das trevas – uma devassa na vida do senador Antonio Carlos Magalhães,do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, também da mesma editora, e que na época do lançamento contribuiu para a queda do poderoso coronel da política baiana. Um best seller que ficou semanas nas listas dos mais vendidos.

O livro tem uma leitura saborosa a partir dos títulos de capítulos, atrevidos e maliciosos, como os seguintes:

Nasceu, cresceu e criou dentes dentro do Tribunal.

As primeiras trapaças com a urna.

Al Capone seria aprendiz perto desse rapaz de bigodinho, disse o italiano logrado.

Coronéis baixam no Maranhão com ordens de Castelo: “eleger” Sarney.

Um milhão de maranhenses migram.

Caçula diploma-se em delinquenciologia no governo Maluf.

Homem da mala morre, dinheiro some, Sarney tem um troço.

No confisco de Collor, caçula salva a grana da família na calada da noite.

Na área de energia, vendem até o poste.

Maranhenses só veem na tevê o que os netinhos da ditadura querem.

Operação Boi-Barrica pega diálogos de arrepiar.

Caçula não sai de casa sem o principal adereço: habeas corpus preventivo.

Lama jorra no Senado. A máquina de atos secretos.

Um retrato do Brasil na era Sarney

Honoráveis Bandidos - Um retrato do Brasil na era Sarney
Sobre o Autor
Entrevista com Palmério Dória (Foto)
Quando começou a pesquisar sobre a vida de Sarney e seus colegas da política?

O Sarney é um cara antigo na minha vida. Tudo começou quando eu era diretor do jornal. “O Nacional”, no Rio de Janeiro, um semanário criado em 1986, de oposição a Sarney. O prato principal deste veículo era denunciar a política da Nova República. Eu era diretor de redação desta derradeira aventura de Tarso de Castro, o inventor do “Pasquim”, conhecido por formar sempre uma equipe de peso. Na lista dos colaboradores vale relembrar de alguns nomes como Cláudio Abramo, Rubem de Azevedo Lima, Paulo Caruso, Fortuna, Moacir Werneck de Castro, Eric Nepomuceno, Luis Carlos Cabral, Alex Solnik e o próprio Myltainho, que chefiava a sucursal paulista. Outro momento em que fiquei de frente novamente com o Sarney foi em 2000, quando começaram a especular a possível candidatura de Roseana Sarney para a presidência da República. No final de 2001 eu fui para São Luís do Maranhão cercar a vida dele e de toda a família. Depois publiquei no começo de 2002 uma matéria na revista “Caros Amigos”, “O nome dela é Roseana, mas pode chamar de Sarney”. Neste texto ela foi apresentada como a “número 1 do miserê”. Neste texto eu dizia onde o Maranhão era governado: na sede da Lunus do Jorge Murad. Uma semana depois de a revista ir para as bancas, por coincidência ou não, a Polícia Federal veio a estourar o local e encontraram neste endereço mais de um milhão de reais num cofre. Foi aí que a candidatura dela desabou. Na seqüência, eu publiquei o livro: “A candidata que virou picolé”, pela editora Casa Amarela. E um ano antes de o Sarney virar pela terceira vez presidente do Senado eu já estava na cola dele em razão da investigação da polícia federal sobre o filho dele, o Fernando, com a já famosa operação Boi Barrica.


Por que o coronel do Maranhão é um personagem quente?

Quando eu conversei com um historiador, Joel Rufino dos Santos, ele me perguntou, assim de brincadeira, “quem é o Sarney”? Parecia não ser um personagem quente. Mas ele nunca deixou de ter o poder da caneta, o poder de nomear, ele nunca deixou de indicar e de participar de todos os governos. Eles tinham a impressão que ele era um personagem menor, isso há alguns anos antes de ele assumir o Senado. Na ditadura ou fora dela ele sempre manteve o poder. O setor elétrico, por exemplo, é todo dele!

O coronel parece que nunca vai cair,
ele está mais firme do que nunca.
José Sarney é sem dúvida o
honorável dos honoráveis.

Você escreveu o livro ao mesmo tempo em que os escândalos iam estourando?
No livro o leitor vai se deparar simultaneamente com o que imprensa divulgava naquele momento e o que já havíamos investigado por nossa conta. É uma leitura que vai proporcionar também uma visão sobre a cobertura que a mídia fez sobre os fatos. Todas as apostas na queda dele eram irreais. Mas depois eu percebi que realmente o livro estava correto na sua narrativa. O coronel parece que nunca vai cair, ele está mais firme do que nunca. Sarney é sem dúvida o honorável dos honoráveis.

O coronelismo está em extinção?

Sarney é um sobrevivente de uma geração, mas ele não é para sempre. Certamente seus seguidores continuaram a adotar a cartilha do mestre. Ele é um novelo de mentiras, vai envolvendo todo mundo. Neste livro o leitor vai saber como o poderoso consegue manipular tanta gente. Ele é o cara que as pessoas dão como morto, mas depois aparece como aquelas almas mal-assombradas num cemitério. Ele é o mais arguto, o mais habilidoso dos animais políticos em cena no país. Quem não enxerga isso será sempre enrolado pelo Sarney. Agora ele tem que estar vivo e atuante para eleger o Fernando Sarney – o cérebro financeiro da família – e dar-lhe imunidade parlamentar A verdade é que os filhos dependem dele.

Lula é refém dele. Há quem diga que Lula
governa, mas quem manda é o Sarney.

Como será a política brasileira depois da era Sarney?
Os seguidores estão espalhados. Vai continuar de uma forma mais baixa, sem coronel mas com os métodos que o consagraram. O Sarney é um caro temido, ninguém o ama. O ACM era um cara estimado por parte da população baiana. O Sarney é temido. O sarneismo sem Sarney será pior ainda. De hora em hora, Deus piora. Lula é refém dele. Há quem diga que Lula governa, mas quem manda é o Sarney.

Você acredita na reforma política?
Não há interesse dos políticos para que isso ocorra, ou seja, sempre ficará a mesma coisa. As velhas lideranças estão desgastadas e o eleitorado não acredita em mais ninguém. O cinismo tomou conta da classe política e da própria população. A tarefa que resta para o jornalista é continuar contando. Os quadros políticos são pavorosos. Basta olhar as lideranças políticas para perder qualquer esperança. Cito: Collor é fiscal do PAC; Almeida Lima é fiscal do Orçamento da União; Wellington Salgado faz parte da Comissão de Constituição e Justiça.

Você conhece o Sarney?
Só vi o Sarney de perto uma vez na vida, na sabatina da “Folha de S. Paulo” em agosto de 2008, perto de estourarem os escândalos contra o Fernando Sarney. Tinha pouquíssima gente, uma mesa formada pelos principais jornalistas da “Folha”, mediada pelo Clóvis Rossi que abriu o papo dizendo que os brasileiros tinham uma relação de amor e ódio com o Sarney. Mas quem ama José Sarney? Só a dona Marly.

Honoráveis bandidos

Honoráveis bandidos
Boicotado pelas livrarias maranhenses o livro “Honoráveis Bandidos – Um retrato do Brasil na era Sarney”, do jornalista e escritor paraense Palmério Dória, será lançado ainda este mês em São Luís. (José Sarney Filho, Foto)

Com informações polêmicas sobre a trajetória política do Senador José Sarney (PMDB-AP), Palmério Dória lança a cartilha que faltava para os desafetos do Dono do Mar.

Numa narrativa humorada (e ácida, por vezes) o escritor nos leva à sala de estar da família que comanda o Maranhão há mais de quatro décadas, revelando brigas, jogo de interesses e troca de favores entre várias gerações de políticos e bajuladores, dos cenários nacional e maranhense.

Aos maranhenses apreciadores da história, essa é a indicação de uma boa leitura.

No sítio do Jornal Pequeno constam alguns trechos extraídos do livro, leiam abaixo:

O PMDB ERECTO

Vizinha do pai na Praia do Calhau, vizinha do pai no Planalto: Roseana tinha gabinete montado pertinho do pai presidente da República. Comportava-se como se estivesse na própria casa.

Bocuda. E desbocada. Mal chegando às bordas do poder federal, ela presenciou o encontro em que o deputado Cid Carvalho, seu conterrâneo, pediu a Sarney apoio para o PMDB nas eleições de 1985. Cid foi enfático:

“Presidente, ao senhor interessa o PMDB erecto!”

Cid voltou o Planalto, semanas depois, desenxabido com o fracasso de seu candidato, que não passou do quarto lugar, com apenas dez mil votos. Roseana levantou o braço, de punho fechado, em posição fálica:

“Então, Cid? Cadê o PMDB erecto?”

Baixou o cotovelo e o balançou, em gesto obsceno:

“Broxou?”

(“Honoráveis Bandidos”, página 28)

A PORTA BLINDEX DO ZEQUINHA

Nem preferido da mãe, nem preferido do pai, José Sarney Filho, o Zequinha, filho do meio, é pesado de carregar. Foi ministro do Meio Ambiente de Fernando Henrique Cardoso, e mais nada.

Seu grande feito foi transferir para o seu Maranhão, então governado pela irmã, nada menos que 80 por cento das verbas de sua pasta – e Roseana achou pouco.

Quando viu que não vinha mais nada, e que o irmão, três anos mais moço, estava fugindo dela, foi até a casa dele, pegou do jardim uma pedra e atirou-a contra a porta de vidro blindex da entrada, que se espatifou. Raivosa mesmo.

(“Honoráveis Bandidos”, página 30)
(Fonte)

Estado de permanente sobressalto

Trecho de Honoráveis Bandidos,
de Palmério Dória
Capítulo 1
Estado de permanente sobressalto

Comemoração com cara de velório • Por que Roseana chora, se os outros aplaudem? • Tem sujeira por trás do impoluto jurista o Rolo justifi ca outro rolo e assim por diante • A qualquer momento nas páginas policiais (Sarney, ilustração)

Estamos em 2009. Na data em que completa meio século de carreira política, aos 78 anos, o velho coronel comemora sem o menor sinal de euforia. Por certo pesam-lhe na memória as palavras de seu falecido amigo Roberto Campos, tão entreguista que lhe pespegaram o apelido de Bob Fields, ministro do Planejamento de Castelo Branco, primeiro general de plantão do governo militar:

"Certas vitórias parecem o prenúncio de uma grande derrota. É um amanhecer que não canta."

Deputado federal, governador do Maranhão, presidente da República, cinco vezes senador. E, no início desse ano pré-eleitoral, eis que em 2010 se dariam eleições presidenciais, ele chegava pela terceira vez à presidência do Senado. Mas tinha a sensação de que tudo aquilo que havia conquistado em meio século de vida pública podia estar por um segundo. Não foi de bom agouro a cena que se seguiu a seu discurso de pouco mais de cinco minutos, ao apresentar sua candidatura à presidência da Casa, naquela manhã de 2 de fevereiro, dia de festa no mar. Em sua fala, ele citou por sinal Nossa Senhora dos Navegantes, depois de se comparar a Rui Barbosa pela longevidade na vida pública e de proclamar que não houve escândalos em suas outras passagens no cargo. Esperava uma sessão rápida, mas, para sua inquietação, vários pares passaram a revezar-se para defender o outro candidato à presidência do Senado, o petista acreano Tião Viana, e aproveitaram para feri-lo. Assim, quando abriram a inscrição para os candidatos, ele pediu para falar. Queria dar a última palavra.

Marcado pela fama de evitar confrontos em plenário, fugiu a seu estilo e fez um pronunciamento duro. Um improviso daqueles que a gente leva um mês para preparar. Deixou claro que não gostou de ver Tião Viana posar de arauto da modernidade e higienizador da podridão que paira nos ares do parlamento brasileiro.

Depois de lembrar a coincidência de 50 anos antes, quando no dia 2 de fevereiro de 1959 assumia o primeiro mandato no Congresso como deputado federal, atacou:

"Não concordo quando se fala na imoralidade do Senado. O Senado é os que aqui estão. Reconheço que, ao longo da nossa vida, muitos se tornaram menos merecedores da admiração do país, mas não a instituição."

Então, pronunciou as palavras seguintes, que trazem os sinais trocados, pois tudo quanto você vai ler é tudo quanto o velho senador não é:

"Durante a minha vida, passei aqui nesta Casa 50 anos. Muitas comissões, vamos dizer assim, muitos escândalos existiram envolvendo parlamentares, mas nunca o nome do parlamentar José Sarney constou de qualquer desses escândalos ao longo de toda a vida do Senado." Disse mais: "A palavra ética, para mim, que nunca fui de alardear nada, é um estado de espírito. Não é uma palavra para eu usar como demagogia ou uma palavra para eu usar num simples debate."

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Estado de permanente sobressalto

Trecho de Honoráveis Bandidos,
de Palmério Dória
Capítulo 1
Estado de permanente sobressalto
A filha Roseana Sarney, senadora pelo Maranhão (Ilustração), do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o mesmo PMDB do pai, caminhava pelo plenário, muito nervosa. Estava em lágrimas quando o pai encerrou sua fala. Os oitenta pares o aplaudiram protocolarmente, mas um deles, de um salto pôs-se de pé e bateu palmas efusivas, acompanhadas do revoar de suas melenas. Tratava-se de Wellington Salgado, do PMDB mineiro, conhecido como Pedro de Lara ou Sansão.

Onde se encontravam os jornalistas de política nesse momento, que não registraram tal despautério? Pedro de Lara é aquela figura histriônica que roubava a cena no programa Silvio Santos como jurado ranzinza, debochado e falso moralista. E Sansão, o personagem bíblico que perdeu o vigor quando Dalila o traiu cortando-lhe a cabeleira.

Esta figura caricata pareceria um estranho no ninho em qualquer parlamento do mundo. Nascido no Rio, é dono da Universidade Oliveira Salgado, no município de São Gonçalo, e responde a processo por sonegação de impostos no Supremo Tribunal Federal. Conseguiu um domicílio eleitoral fajuto em Araguari, Minas Gerais, e praticamente comprou um mandato de senador ao financiar de seu próprio bolso, com 500 mil reais, uma parte da milionária campanha para o Senado de Hélio Costa, o eterno repórter do Fantástico da Rede Globo em Nova York.

Com a ida de Hélio para o Ministério das Comunicações de Lula, seu suplente Wellington então ganhou uma cadeira no Senado Federal, presente que ele paga com gratidão tão desmesurada, que separa da verba de seu gabinete todo santo mês os 7 mil reais da secretária particular do ministro. Nesse tipo de malandragem, fez como seu ídolo, colega de Senado Renan Calheiros, que vinha pagando quase 5 mil mensais para a sogra de seu assessor de imprensa ficar em casa sem fazer nada.

Mas o cabeludo senador chegou à ribalta em 2007, justamente como aguerrido integrante da tropa de choque que salvou o mandato de Renan Calheiros, então presidente do Senado e estrela principal do episódio mais indecoroso daquele ano, com amante pelada na capa da Playboy, bois voadores e fazendas-fantasma. O alagoano Renan, com uma filha fora do casamento, que teve com a apresentadora de tevê Mônica Veloso, bancava a moça com mesada paga por Cláudio Gontijo, diretor da construtora Mendes Júnior. Ao tentar explicar-se, Renan enredou-se em notas frias, rebanho superfaturado, rede de emissoras de rádio em nome de laranjas, enquanto Mônica mostrava aos leitores da revista masculina da Editora Abril a borboleta tatuada na nádega.

Durante 120 dias, enxotado pela mídia e pela opinião pública, Renan resistiu no cargo, suportando humilhações como o plenário oposicionista virando-lhe as costas no dia em que tentou presidir uma sessão. Esse era o Renan que, quase dois anos depois, no 2 de fevereiro de 2009 posaria vitorioso como articulador-mor da volta de José Sarney à presidência da Casa.

Quem diria, não? O José Sarney que já foi companheiro de um nacionalista respeitado como Seixas Dória, de um articulador do calibre de José Aparecido de Oliveira, de um jurista do porte de Clóvis Ferro Costa, todos três integrantes do grupo Bossa Nova, espécie de esquerda da União Democrática Nacional, a conservadora UDN, todos três ostentando o galardão de ter sido cassados pelo golpe militar de 1964, e sabe-se lá por quais artes só ele, Sarney, dentre os quatro amigos escapou da cassação, esse mesmo Sarney agora festejado pelo cabeludo sonegador e por uma das mais desmoralizadas figuras do cenário político brasileiro, Renan Calheiros, que tinha nos costados um inquérito com 29 volumes tramitando no Supremo.

Quer fechar o círculo direitinho? Em 2007, depois de absolvido pelo plenário em votação secreta e escapar da cassação por quebra de decoro parlamentar, na casa de quem Renan Calheiros comemorou a preservação do mandato? Na casa de seu salvador, Sarney, junto com outras figuras, como o deputado federal e ex-presidente do Senado Jader Barbalho, com know-how em renúncia para escapar de cassação; Romero Jucá, líder do PMDB no Senado; Edison Lobão, futuro ministro das Minas e Energia; e, claro, Roseana Sarney. Nesse festejo, no Lago Sul de Brasília, não se esqueceram de "homenagear" o senador amazonense Jefferson Peres. Esta figura íntegra do parlamento brasileiro, relator do caso Renan no Conselho de Ética, recomendou a cassação, pedida pelo povo brasileiro. Os convivas mimoseavam Jefferson a todo momento, referindo- se a ele como "aquele pobre relator".

Memorável dia 2 de fevereiro. Surpreendentes seriam as fotografias nos jornais do dia seguinte. Sarney de óculos escuros como os ditadores latino-americanos do passado, amparado pelo colega de PMDB Michel Temer, eleito presidente da Câmara, igualmente pela terceira vez. Barba e bigode. Este Michel Temer merece umas pinceladas.

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