Parte 2
Não era para eu estar aqui com o trezoitão. Eu tocava trombone. Quase cheguei lá. E o que foi feito de mim? A polícia lá embaixo. Neguinho subindo pelas paredes feito o Homem Aranha para me pegar. A multidão tomando o Grande Ponto. Zequinha toca trombone ganha nome de bandido. Pode ser que exista o Espírito Santo. Era meu pai quem dizia: ‘Ninguém morre na véspera, a hora é a hora’. Podia ter escutado o que o velho dizia. Meu Deus!, mas pra quê!?! Amigos alertavam: ‘O remédio era tirar o cavalo da chuva, ir pregar noutra freguesia’. No Brasil da gente, até a gurizada sabe: nascer é embarcar numa canoa furada. Câmbio, Cidade da Esperança!
Eu não devia estar aqui para apagar esse pinta. Tudo me lembra Fernando Dutra Pinto, o camaradinha paulistano morto aos 22 anos, numa parada desse tipo com a filha de Sílvio Santos, Patrícia Abravanel. Mas ali ele foi um deus. Ali ele parou o país. Ali ele virou herói. Nas paradas de cá é diferente tudo. Aqui a seca é mais seca. É mesquinharia se falar em juventude. Para nós, o sonho acabou. Sem papo. Viva, Felipe Camarão! (Ilustração)
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