Parte 3
Sem tirar nem pôr, no Brasil virei grupo de risco. Sou dos 49 milhões de 15 a 29 anos que buscam sem encontrar perspectiva de futuro. O que é ser jovem num país sovina? Não nos contam o que vem pela frente tintim por tintim. Orgulha-se de exportar urnas eletrônicas, tem pleitos informatizados, mas a gente sabe a cada eleição que vamos dar com os burros n’água. E se lhes avançamos o dedo pelo nariz, revelando-lhes os podres, agem cheios de melindres, os picaretas. Se fazem de sentidos, como se tivéssemos cometido alguma desfeita. Diga aí, Nazaré!
Porca miséria. Passadas as eleições, somem na poeira da estrada, pegando a mesma via que os trouxe às favelas. Vão amarrar cachorro com lingüiça, enquanto nós ficamos ouvindo cantar o galo, sem saber aonde. São os de sempre e a gente não aprende. São mais que velhacos: gradessíssimos tratantes. Num país que ainda separa os que podem e os que não podem usufruir alguns direitos. Somos uns nerds, não sabemos sequer mangar desses vigaristas, que dizer correr com eles da nossa porta. Não entendemos patavina de democracia, nem sabemos como lambiscar nossos direitos. Nem coragem temos para engambelar os coiós, mas ainda assim queremos ser gente. Aleluia, Bom Pastor!
E eu querendo ser ás do trombone. Não sobrou nem a minha vara. Juro que pensei: a coisa vai mudar com a vinda de santa Viviane Senna a Natal. Vê no que deu. Foi ela sair, e tudo desabar. Santa Viviane falou sobre ‘Responsabilidade Social das Empresas no Desenvolvimento’. Veja só, o título é pomposo. Pura ganância de suínos. Agora vejo que este empresário, a quem tenho sob a mira da arma, poderia ter me ajudado. No papo da lei de incentivo à cultura. Nem ele, nem eu. Veja a cultura que sobrou! Latifúndio também na cultura. Meus respeitos, bairro Nordeste!
Enganei-me com o script. Bobeira de pobretão, gente sem pedigree. Acreditei que daria certo. Que a promessa de tocar na banda marcial do Amarante poderia me salvar. Mas tudo me veio claro como um raio na perturbação do Carnatal. Eu seria músico e terminei cordeiro. Engulho só de pensar. Dá náusea lembrar. Agarrar as cordas, que não eram do meu violão, proteger mauricinhos, patricinhas, num carnaval que eu nem podia entrar. Nem na pipoca nem no miolo. À sombra da bunda de Daniela Mercury, tirando comida da boca dos pobres, a preço de ouro alegrando a gurizada chinfra. Quanto a mim e aos chegados do subúrbio, muito longe do palco. Nas fronteiras. Detidos nas cordas. Na porrada da polícia, nos sossega-leões para dar ritmo ao samba. Axé, minhas Quintas!
E lembrar que neguinho governador já levou à falência dois bancos, Bandern e BDRN, a companhia de eletricidade Cosern. Contar os desvios da merenda escolar, do programa do leite, feito pra dar de mamar a quem já tem gado. Da Operação Ouro Negro. Tem nada não, malandragem. A gente vota, na responsa. Manda aí o pichulé que a gente acerta eles, forma um bonde. Seja para presidente, senador, deputado, vereador, o escambau. Pode se achegar, cumpadi, que a gente garante o troco. Arriba, Lagoa Seca!
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