Parte 4
Mas, o quê fazer? Somos essa massa de otários. Indigentes potiguares dourando a pílula da política, fazendo voar a mosca azul das candidaturas. Número flagrado em pesquisa da Fundação Getúlio Vargas contabilizou, como escória encurralada da população, 47,69% de operadores da mendigagem. Gente boa, que ousa sobreviver, fazendo os sucos possíveis com os limões que a vida lhes deu, sem ocupação ou domicílio certos e sabidos. Os 1,3 milhão de potiguares que vivem alegremente na miséria varonil. Canta, Lagoa Azul!
O Brasil da gente na verdade não existe. Não existe Brasil! Em Nova Cruz, quando eu era pequeno, pensava em ser doutor, ou cantor, ou tocador de trombone. Ajudava meu pai a carregar tijolo na olaria. Foi minha mãe morrer, peguei a estrada de Natal. Essas bandas bonitas da capital. Se vivemos na miséria, pior seria ficar por lá. Quero ganhar salário, comer feijão com arroz, fazer música, dar uma bimbada. Alerta, Pajuçara!
Eis-me aqui com esse berro. Mas eu não precisava estar assim. "Dizem que o que eu faço é arte, mas é a minha salvação na terra", dizia Arthur Bispo do Rosário. Se ele venceu? Está morto. Por que não eu? Vou protagonizar uma fita, o filme da minha vida, com cenas como a caçada a Hélio Gago. O mano Hélio Sabino, 22 anos, do conjunto Amarante, um chegado que morava perto. Diga pessoas falsas. Ah!, hipocrisia, teu lugar é Natal! Políticos podres. Polícia devassa. Justiça canalha. Saúde, Loteamento José Sarney!Já me tiro como um cadáver. Mas que somos nós, os desajustados? Os fora do jogo? Que é a maioria dessa gente que passa por mim nas ruas do bairro, os 49% de indigentes da população, senão uns zumbis comportados? Indo para o cadafalso virar lingüiça? Senão um bando de cadáveres? Sabem que político não mata na bala, na faca ou na porrada. Os representantes do povo não tiram sangue. Ficaria feio. Politicamente incorreto. Mas o que são eles senão vampiros que agem no mesmo diapasão do que vimos no Massacre da Serra Elétrica? Como confiar nos caras, se eles não pagam nem visita. Se ficamos sem ter sequer os sete palmos para dizer que é terra nossa, mesmo vivendo na pindaíba até espichar a canela e cair de boca na terra. Uma cova grande / para teu pouco defunto, / mas estarás mais ancho / que estavas no mundo. Grande Mãe Luíza!
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