Parte 06
RADAR POTIGUAR - Uma vez mais a guerra encerra um trabalho seu: o último de 2005. Não tem aí uma certa repetição do seu delicado "Guerra$".
LUIS ROSEMBERG FILHO - Como poetava Walt Whitman: "Sou contraditório, sou imenso, / Tenho multidões dentro de mim". Ou seja, nunca nada se repete da mesma maneira num processo de criação visceral. "Guerra$" oferece-nos a experiência do medo e da impossibilidade. Já no "Cinema" evidencia-se o confronto. E a guerra aí, longe de ser o nascer e morrer como herói sem qualidades - é uma aproximação possível com o que se vive hoje no Afeganistão ou no Iraque. Lá também não se pode criar nada. É a guerra do senhor Bush, sem espetáculo algum. Só depois Hollywood transformará tudo em sabonetinho das estrelas.
RP - E o que você espera do novo ano de 2006?
LRF - O que se pode esperar de um ano eleitoral com a política tão ineficaz ou desmoralizada? Como não disponho de uma bola de cristal, não acredito em nada. Dois mil e cinco foi um ano asfixiante entre a baixeza, o engodo, a inércia e o horror da eterna inexistência de uma política cultural para o país, e menos ainda para o cinema. Ora, por que 2006 seria diferente? Os políticos e partidos não são os mesmos, com alguns novos ainda piores? Aqui, teme-se mais a renovação do que a morte. Toda e qualquer renovação aqui nasce nesse ou naquele festival e morre em seguida ao lançamento. Mas, faço fé no "Serras da Desordem", de Andrea Tonacci, "Eu Me Lembro", do Navarro, "Copa 58", do José Carlos Asbeg. É preciso acreditar que nem tudo está perdido nesse triste ano eleitoral. Que ao menos o cinema nos salve da lama. (Publicado no Caderno Encartes do Jornal de Natal em 06.02.06.) Ilustração de Luiz Rosemberg.
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