Parte 05
Juristas consultados no Estado não encontraram uma brecha para ultrapassar o imbróglio. O procurador geral do Estado ainda tentou uma panacéia, entrando de peito aberto na nossa defesa. Ingressou com duas representações junto à Procuradoria Geral da República e ao próprio CNJ, tentando provocar ambas as instituições a argüirem a inconstitucionalidade da lei estadual em vigor, que diz que a medida anti-nepotismo só valerá para os "egressos futuros", ou seja, só atingiria os que fossem indicados depois, beneficiando os já lotados nos gabinetes. O negócio é que a lei estadual não tem poder para se sobrepor à resolução do CNJ. Foi feita uma tentativa em norma local sancionada pela governadora, que tornaria sem efeito a retroatividade da medida do CNJ, mas não se sabe se vai valer de verdade. Estou tristinha e macambúzia.
O caso caiu na imprensa. Parte da Imprensa. Mídia de políticos hoje na oposição, que não come do prato. Rodolfinho me diz que será esquecido. Aqui não tem esta de "O Povo Contra o Estado", como se vê em filmes sobre a Justiça americana. Aqui o Estado sou eu, darling. Ou seja, somos nós todos pendurados no orçamento. Comenta-se sobre um impacto que haveria na folha, pois há quem receba R$ 6 mil de salário e mais uma gratificação de R$ 6 mil. Há famílias que carreiam dos cofres públicos verdadeiras fortunas para uma mesma casa. Corre nas bocas que uma delas, considerada a campeã, chegaria a auferir, por mês, renda superior a R$ 500 mil, somente de cargos comissionados. Uma coisa fica evidente: no Estado só existe uma classe. Então, tudo é muito gostoso. É lindo viver. Aconteceu algo inédito na minha vida: vou escrever poesia. Estou tão bem com a vida que quero lançar um livro. Aqui dá muito poeta. Deve ser a água. Contarei minha experiência de mulher blindada. A polícia existe pra nos proteger. Cadeia é coisa de indigente. Toda a cidade é montada, construída, fabricada, em cada centímetro, pensando em nós. E a própria imprensa reflete isso. Digo, a nossa imprensa. A outra é oposição, faz média com os pobres. E nada disso é oculto, feito nas sombras. Temos vitrine nas colunas sociais. Os pobres babam lendo o que lhes foge ao bico. Aqui é tudo muito demarcado. Quer viver melhor? Tem de se curvar. Quer viver feliz? Venha para cá.
segunda-feira, julho 10, 2006
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