segunda-feira, julho 10, 2006


Final

Rodolfinho me levou para passear de ultra-leve. A cidade do alto é fascinante. A gente vê a cidade dos ricos sitiada, a parte do downtown, onde estão as belas mansões, os bancos, as repartições de luxo, os quarteirões dos prédios da Justiça, como fortalezas inexpugnáveis e acesso restrito, os paredões de edifícios voltados para o oceano Atlântico, fechando as praias aos maracatus. A sensação de estar blindada é permanente. Às vezes me sinto nas liteiras de Rugendas. Saio do carro dentro do edifício e um batalhão de guardas-costas filma cada passo. Isto é estilo de vida! A pobreza e a ignorância nos destacam dos pobres mortais como diamantes colados em paredes de cimento rugoso. E o povo é aquela candura. M-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o! É aquela coisa ingênua, pitoresca, loucos por uma pantomima, cachaça, mulher nua, futebol. Vive a nos pedir trocados. E tem até "parquinho de diversão" com os pobres. Os esnobes, para aparecer nas colunas, inventaram uma forma interessante de happy-hour. Distribuir sopão para mendigos. O povo se entrega demais às autoridades. Devia utilizar sua própria sabedoria. Manter a relação com seus representantes sempre com um pé atrás. Como na piada sobre o cúmulo da confiança, que seriam dois canibais a fazer um 69... Um contrato social exige um mínimo de garantia. (Publicado no Caderno de Encartes do Jornal de Natal de 06.02.06.) Ilustração

Il

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