domingo, julho 09, 2006

Os meninos de Natal



Parte 6
Delegados confirmam que a cidade virou "trampolim" para o tráfico. Triste fim de Policarpo Quaresma. Depois de Trampolim da Vitória, o trampolim catapulta para a perdição. Ninguém vê neguinho espichado. O visual alegre que dão o verde, o amarelo, o branco e o azul de nossa bandeira, numa composição que contagia corações afora em Copa do Mundo, não é o mesmo do preto marcado pelo luto das mortes de legiões de vidas que partiram e partem. É de não acreditar, diga aí: a cada dez carinhas mortos, sete são vítimas da violência. Nos últimos cinco anos, perto de 60 mil manos perderam a vida em brigas e assaltos. Na ponta do lápis, o número de óbitos equivale ao total de soldados americanos mortos nos dez anos da Guerra do Vietnã. A cada duas horas acontecem 3 homicídios envolvendo jovens nesse Brasil fagueiro. Vida longa, São Gonçalo!
São passos de milhares de sonhadores que continuam a ser bloqueados na morte, num encontro precoce com Deus. Mas isto é Brasil. Terá jeito? Completados 183 anos de vida independente, é um país de bosta, fazendo de conta que ainda tenta encontrar seu destino. Sem querer ver que já está trilhando a sina. Sua estrada segue pro despenhadeiro que abocanhou Telma e Louise, ao ultrapassarem as fronteiras da vidinha boa e pender pro "crime" de se defenderem de seus estupradores, caindo no precipício. Mereciam uma canção. Mas acabou a festa. O cara vai ter seu fim. A polícia me fareja e aponta seus obuses. Não para os vampiros protegidos da sociedade que arruínam a vida. Mas para o cangaceiro músico em que eu me tornei. Um fora-da-lei forçado das galés. Nada além. Não mais Luiz Gonzaga. Acabou Zequinha do Trombone. Nunca mais o rock pauleira de Raul Seixas. Saravá, Extremoz! (Publicado no Caderno Encartes do Jornal de Natal, em 30.01.2006.) Ilustração veja o site da UERJ.

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