terça-feira, fevereiro 13, 2007

João Eudes: ‘Religião de tarados’

O caso da 93.5 Rádio Solidariedade, emissora da Comunidade Norte-rio-grandense de Defesa da Cidadania, com endereço em Macau, cria espécie, na medida em que não há como encurralar seus diretores, já que a própria legislação em vigor desconhece prática de crime no caso levado às barras do Tribunal da Justiça Federal. Aparenta toda uma perseguição de grupos políticos que vêm perdendo terreno em Macau, diante do avanço democrático, como pode ser comprovado com a própria destruição do mito em torno do ex-prefeito José Antônio Menezes, antes todo-poderoso e agora mesmo demitido como médico dos quadros da Prefeitura de Macau. Em entrevista ao RADAR POTIGUAR, disse João Eudes Gomes, ao fazer suas considerações acerca do rumoroso caso:
"Nós vamos sendo vítimas da intolerância, da falta de democracia, da falta de respeito, até. Uma perseguição que é feita pela Anatel, depois pela Polícia Federal e depois pelo Ministério Público Federal, que culmina na Justiça Federal. O Ministério Público denunciou, em 2005, a 93.5 FM de ser uma rádio clandestina, de ser uma atividade ilegal. Esse processo já vem de lá para cá, houve idas e vindas e, finalmente, houve essa audiência hoje, da qual a gente chegou à conclusão de que não existem provas concretas de crime. A gente já sai de lá na certeza de que como criminoso a gente não vai ficar. Não tem como enquadrar a gente dentro de uma lei de crime, porque não existe crime. É o chamado "crime inexistente". Se o crime é inexistente, não existe autor.
RADARPOTIGUAR – No momento em que se vêem crimes de colarinhos brancos por toda parte, três forças do Estado se reúnem para massacrar uma iniciativa do movimento popular. Que considerações você faz?
JOÃO EUDES – Eu acho que, de 1964 até agora, só existiu em Macau uma instituição comunitária. E os governos têm muito medo dessas idéias. Não é o fato de ser uma rádio. É porque você se indaga: como é que uma população sem dinheiro mantém uma rádio, a rádio funciona e tem audiência? Assim pode ser um hospital comunitário, pode ser um centro de compras comunitário, pode ser um banco comunitário. A população descobre que pode viver independente dos falsos líderes, vamos dizer, dos padrinhos, dos coronéis. É aquela coisa: a pessoa descobre, através da união na rádio comunitária, que você pode se autogerir. Pode ser independente. E isso, no Brasil, é proibido. Porque o Brasil é um país capitalista onde não predomina a colaboração. O que predomina é a concorrência. E a rádio comunitária vem para pôr por terra essa questão da concorrência. A rádio comunitária sobrevive da colaboração. Ela aceita as pessoas como as pessoas são. Não precisa você falar chiando, não precisa você ser bonito. A rádio comunitária recebe a todos: o branco, o preto, o pobre, o rico, quem tem, quem não tem. Quem fala o português das elites, quem fala o português estropiado. A rádio comunitária recebe todo mundo. Ela não discrimina. Daí existir uma grande perseguição contra essa atividade. Não é só contra a rádio. É contra a iniciativa. É se organizar independente das classes dominantes.

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