terça-feira, dezembro 05, 2006

A sina dos cães sem pluma

Paulo Augusto
Rosalinda estava morta de felicidade. Seu coração dava pulos de alegria, a cada vez que passava a mão sobre o achado, socado dentro da bolsa, onde o escondera como uma peça extraordinária, estrambótica com certeza. E aquilo era. Digno de ser escondido dos olhos curiosos de seus amigos da Favela do Fio, a meninada que trabalhava com alarido ao seu redor.
Custava a acreditar que tivera tamanha sorte. Era como se tivesse descoberto ouro. Uma pepita de ouro, naquela esterqueira toda, uma das montanhas de lixo oriundo dos condomínios que cercavam a praça Pedro Velho, em Petrópolis, cuja paisagem lembrava uma cordilheira de monturos. Os detritos se acumulavam ali por semanas, fazendo a festa das crianças, velhos e adultos, que acorriam ao setor, todos os dias, para dali tirar a sobrevivência. Nos seus 9 anos de idade, já compreendia o valor do tal objeto. Seu avô, por exemplo, daria tudo para possuir um deles. Fora ele, inclusive, quem incutira na sua cabecinha a importância de se ter um livro.

Nenhum comentário: