segunda-feira, outubro 14, 2013

Luiz Ruffato fala sobre polêmico discurso e rebate críticas

Feira do Livro de Frankfurt »
Entrevista: 
Luiz Ruffato fala sobre polêmico discurso e rebate críticas
Mineiro de Cataguases conta sobre as repercussões da fala na abertura do evento (Fonte)


"Esse discurso serviu para mostrar quem pensa como eu, quem pensa diferente de mim, e respeito, e quem pensa diferente de mim e não respeito, aquelas pessoas que me agridem. 
Dessas não quero saber"

Frankfurt (Alemanha) – Inicialmente, o “astro” brasileiro na Feira do Livro de Frankfurt – que homenageia o Brasil e será encerrada hoje – seria Paulo Coelho, que cancelou sua participação com críticas aos critérios de seleção de autores adotados pelo governo federal. Mas um mineiro de Cataguases, na Zona da Mata, acabou roubando a cena: Luiz Ruffato, em seu discurso contundente na abertura do evento, realizada na terça-feira. O autor de Eles eram muitos cavalos afirmou que o Brasil nasceu sob o genocídio, disse que estupros foram a base da democracia racial brasileira e destacou que impunidade e intolerância são regras no país. “Não queria me transformar na ‘vedete’ do evento dessa maneira, mas virei, de forma involuntária. A última coisa que queria é todo esse constrangimento. E o constrangimento era meu: de ter de falar, aqui na Alemanha, que o meu país tem todos esses problemas. Não é bom, não é agradável. Mas, enfim...”, afirmou ele em entrevista concedida na Estação Central de Frankfurt. Nada mais mineiro do que a conversa entre trens e um cafezinho num lugar em que Ruffato é apenas mais um dos milhares de transeuntes. A poucos metros dali, no espaço equivalente a 14 campos de futebol, está o pavilhão brasileiro da feira, o maior evento do mercado editorial do mundo. Depois de seu polêmico discurso, o escritor até evitou aparecer por lá. Na Alemanha desde o começo do mês, Ruffato tem agenda intensa: 62 eventos em 15 cidades. “É bacana esse reconhecimento aqui. Tenho livros traduzidos para o alemão e isso ajudou a me a dar alguma visibilidade. Sou mais divulgado aqui do que no Brasil”, afirma.

Você esperava toda essa reação a seu discurso?
Evidentemente, esperava que o discurso fosse provocar reações. Mas não que provocasse reações, digamos assim, pessoais. Isso para mim é realmente desagradável. Teve gente que falou que eu deveria ir embora do país, outros disseram que só mesmo o filho de uma lavadeira e de um pipoqueiro para falar uma bobagem dessas. Até a TFP (Tradição, Família e Propriedade) soltou aqui nota, em alemão, muito agressiva, falando que sou comunista, que estou incentivando a luta de classes. Como se tivesse de incentivar alguma coisa. Enfim, acho que, de certa maneira, infelizmente, tanto a esquerda quanto a direita estão desfavoráveis a mim.

Mas tem muita gente a favor também.
Sim. A maioria está a favor. Aqui na Alemanha, da parte dos alemães, tive total apoio. Dos meus colegas escritores, a maioria me apoia, mas sempre há os que não apoiam.

E essa história de que você chegou a ser agredido?
Não me agrediram, mas tentaram. Pessoas comuns. Brasileiros que estão aqui na feira e vieram me abordar de maneira extremamente agressiva. Não sabem a diferença entre Estado e governo. Falaram que eu estava falando mal do governo e fui pago pelo governo. Não fui pago pelo governo, mas pelo Estado. Se o governo tivesse me pagado, claro que não poderia falar mal. Esse espírito brasileiro de defender: ah, roupa suja lava-se em casa. Sim, lava em casa. Exatamente por isso somos o oitavo país em que as mulheres mais apanham no mundo.

Quando você escreveu esse discurso, imaginava que ele provocaria algum efeito de certa maneira? Ainda mais num evento cheio de holofotes.
Olha, falo isso há 10 anos no Brasil. Os meus livros falam isso. Mas como li o discurso fora do Brasil, na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, acabou tendo maior repercussão. Não falei mal do Brasil. Se alguém falar mal do Brasil perto de mim, brigo. Só dei um retrato não hipócrita do que é o nosso país.

Você não tem sido visto no pavilhão brasileiro da feira depois de toda essa história. Há até uma piada de bastidores dizendo que você se escondeu num bunker (abrigo subterrâneo antinuclear) para evitar esse assédio. Você evitou ir lá?
Tenho ido à feira, aos outros pavilhões, mas tenho evitado ir ao do Brasil para não criar constrangimentos ou algum tipo de problema. Mas, sabe, não entendo esses ataques pessoais. De minha parte não houve nenhum ataque a ninguém e a governo algum. E as reações boas foram muito boas. Mas as ruins também foram muito ruins.

Como você elaborou o discurso?
Esse discurso ampliado foi publicado num jornal suíço, de Zurique, dos três jornais mais importantes em língua alemã, o Neue Zürcher. É um artigo imenso, de quase duas páginas, escrito no começo do ano a pedido do jornal. Naquela época, nem sabia que faria esse discurso. Não havia sido convidado ainda. O editor me encomendou um ensaio sobre São Paulo. Depois, ele pediu para transformá-lo num ensaio sobre o Brasil. Nesse meio-tempo, surgiu o convite para abrir a feira. Então, percebi que o discurso que queria fazer estava ali naquele artigo. O que fiz foi pegar uma parte dele, reescrever, juntar algumas estatísticas mais atualizadas. Na verdade, ele foi publicado no sábado anterior à abertura da feira.

Você não ficou constrangido de fazer esse discurso ao lado do vice-presidente da República, Michel Temer, e da ministra da Cultura, Marta Suplicy?
De jeito nenhum. Até porque não estava criticando o governo. Muito pelo contrário, até defendo o governo. Tanto que em vários momentos cito os avanços registrados ao longo dos anos. Por isso, não poderia me sentir constrangido. E mesmo que estivesse criticando o governo, não teria problema algum. O meu papel é esse. O meu dever é esse.

Estamos vivendo uma certa regressão? Tudo está politicamente correto demais?
Estamos vivendo um momento muito curioso. É um momento importante em que, até por razões alheias à nossa vontade, as coisas estão ficando mais escancaradas. Nós, no Brasil, temos essa mania de ser hipócritas e ficar de nhe-nhe-nhem: todo mundo é bonitinho, e a gente nunca sabe exatamente com quem está falando. No meu caso, esse discurso serviu para mostrar quem pensa como eu, quem pensa diferente de mim, e respeito, e quem pensa diferente de mim e não respeito, aquelas pessoas que me agridem. Dessas não quero saber. Mas com quem pensa diferente de mim, e respeito, quero debater. Nesse sentido, foi importante tudo isso que aconteceu comigo.

Você soube que o Ziraldo passou mal.
Alguém me falou. E ainda teve uma pessoa maldosa que insinuou que ele tinha passado mal por minha culpa. Fiquei horrorizado com isso, nem o conheço pessoalmente. No dia do discurso, alguns autores ficaram berrando, mandando-me ir embora, mas nem ouvi direito. Naquele dia estava tão nervoso, tão ansioso, que nem as palmas cheguei a ouvir. Mas tive cinco minutos de aplausos. No auditório, eram umas duas mil pessoas. Tanto os brasileiros quanto os alemães me aplaudiram. (NR Depois do discurso de Luiz Ruffatto, Ziraldo mandou o colega calar a boca, gritando que se ele estava tão insatisfeito deveria se mudar do Brasil).

E como o discurso repercutiu em sua terra, Cataguases? Alguém ligou para você?
Que nada. Em Cataguases, não sou nada (risos). Certamente, não tenho nenhuma dúvida de que é mais fácil ganhar o título de cidadão honorário de Hofheim, aqui na Alemanha, do que o de Cataguases, por exemplo. Isso porque sou filho da lavadeira e do pipoqueiro. Não sou filho da burguesia de Cataguases. Vou muito pouco à cidade, agora só tenho uma irmã morando lá. Nunca recebi um muito obrigado por falar da cidade. A ponte de Cataguases, inclusive, estampa as capas dos meus livros.

*A repórter viajou a convite do Governo de Minas

Imagem desconstruída

“A participação brasileira destruiu a imagem que se fazia aqui na Alemanha de um país colorido no qual ninguém trabalha, que é como 90% dos alemães viam o Brasil”, afirmou ontem Juergen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt, que homenageou o Brasil, em referência ao discurso polêmico do escritor Luiz Ruffato na abertura da feira. Boos reforçou: “A variedade de discursos mostra como o Brasil é uma sociedade dinâmica, que reinventa a si própria. A abertura foi extraordinária: muito literária e muito política”. Ontem, foi a foi a vez de o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro falar no evento, sem poupar críticas. Chamou os políticos de “população desordeira e parasitária” e Brasília de “um monumento a ideologias passadas” , arrancando aplausos. A boa notícia ficou por conta do cartunista Ziraldo, que completa 81 anos no dia 24. Ele recebeu alta do hospital em que estava internado na Alemanha, onde passou por um cateterismo de emergência.

Brasil: O polêmico discurso de Luiz Ruffato em Frankfurt

O polêmico discurso de Luiz Ruffato em Frankfurt

Luiz Ruffato discursa na feira de Frankfurt 
"Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais", criticou o escritor mineiro Luiz Ruffato.
"A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada", completou. (Fonte)



O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao fato de habitar os limiares do século 21, de escrever em português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas. Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças.

O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a afirmação de nossa subjetividade se verifique através do reconhecimento do outro --é a alteridade que nos confere o sentido de existir--, o outro é também aquele que pode nos aniquilar... E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregação e dispersão, a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença.

Nascemos sob a égide do genocídio. Dos quatro milhões de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que não teria havido dizimação, mas assimilação dos autóctones. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas - ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.

Até meados do século XIX, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados e levados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, artistas plásticos, cineastas, jornalistas, escritores.

Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania --moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade--, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém...

Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios --o semelhante torna-se o inimigo. 

A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por ano, número três vezes maior que a média mundial. E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.

Machistas, ocupamos o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. E é sabido que, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, esses números são sempre subestimados. 
Hipócritas, os casos de intolerância em relação à orientação sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade. 

E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução.

O sistema de ensino vem sendo ao longo da história um dos mecanismos mais eficazes de manutenção do abismo entre ricos e pobres. Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais - ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples. 

A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.

Mas, temos avançado.

A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia - são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.

Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, é imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.

Nós somos um país paradoxal.

Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo - amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.

Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos...

Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?

Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro -seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual-- como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora.

terça-feira, outubro 08, 2013

As oligarquias que assaltaram o Estado

As oligarquias que assaltaram o Estado
Adauto Medeiros, Engenheiro civil e empresário, 
adautomedeiros@bol.com.br 
(Jornal de Hoje, Editoria: Opinião, pág. 02, Natal/RN, 
Sexta-feira, 04 de outubro de 2013.)

As oligarquias sempre quiseram dominar o mundo para poucos
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Acompanho a política no Brasil há bastante tempo. As oligarquias que perderam o poder na Revolução de 30 voltaram ao poder com a queda de Getúlio Vargas. Aécio Neves, candidato agora do PSDB à presidência, é neto de Tancredo Neves, que era ministro da Justiça de Vargas quando ele suicidou-se. O Brasil pouco muda.
Tancredo permaneceu na política e terminou candidato eleito pelo Congresso Nacional presidente da República após a redemocratização. Já o candidato do PSB, Eduardo Campos, atual governador de Pernambuco, é neto de Miguel Arraes, um político dito de esquerda, que foi cassado e exilado com o golpe de 1964.


Oligarquia Sarney, no Maranhão: de novo na política brasileira não houve nada
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Tive negócios no Maranhão durante 32 anos, de onde pude acompanhar a desenvoltura da família Sarney, que formou a maior oligarquia do Brasil. Posso dizer com tranquilidade: de novo na política brasileira não houve nada.
A redentora aliou-se às mesmas oligarquias e a chamada Nova República fez o mesmo. Sarney e Antônio Carlos Magalhães ditaram o governo de Fernando Henrique Cardoso, como Sarney e outras cobras oligárquicas ditaram o governo Lula, chegando Sarney a receber elogio de Lula, quando disse que ele, Sarney, era uma pessoa especial, tendo, portanto, leis e direitos especiais.


No Rio Grande do Norte, sem sorte, temos três oligarquias 
que estão no poder há mais de 50 anos
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Aqui no nosso Estado, nosso Rio Grande do Norte, sem sorte, temos três oligarquias que estão no poder há mais de 50 anos. A elas pertencem os 100 melhores empregos do Estado e tudo indica que irá aumentar o número de pessoas que chegam ao poder somente pelo sobrenome. Que atraso! E assim eles vão brincando de administrar o dinheiro público e continuam a mangar de nós, os imbecis contribuintes. 

No Brasil também não tem sido melhor ou diferente os líderes sindicais que, desde a criação da Nova República são os mesmos e que ainda achando pouco criaram um partido público. As oligarquias políticas e sindicais se uniram contra o povo brasileiro e criaram um sistema de leis para protegê-los e mantê-los no poder.
O mensalão é o exemplo mais gritante e o mais novo e que mostra com todas as letras a impunidade sobre a classe oligárquica e política que domina o Brasil há mais de um século e nenhuma perspectiva há para mudança, pois reformas que é bom não há possibilidade, pois essa gente nem quer nem pode fazer as reformas, pois eles vivem mesmo é da pobreza e da impunidade.

segunda-feira, outubro 07, 2013

É a banalidade do Mal, no RN

É a banalidade do Mal
Paulo Augusto

Os que compõem a nossa classe política estão pouco se lixando para o futuro 
da nossa gente, tal como o casal sem-futuro Rosalba e Carlos Augusto Rosado, 
com sua breguice na gestão do Estado
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Para o leitor ter uma ideia, é como se nosso estado tivesse decepados alguns dos seus órgãos, comprometendo o seu funcionamento. Muitos não acreditam, mas esse corte, esse destroncamento seria de 70%, e só se trabalha com 30% das potencialidades do estado em prol de sua população, em termos de sua economia, suas finanças, seus recursos naturais e espirituais. E é evidente que as oligarquias não irão privilegiar o povão, a arraia-miúda, a merdalha, na hora de fazer a partilha dos bens que sobraram no caldeirão dos governantes, embora seja a rafaméia que — uma palavra doce como mel — vota.
Nesse sentido, mesmo que a gente — munícipes/contribuintes/eleitores/cidadãos — não beba, mesmo que a gente viva sempre sóbrios e cheios de ideias; mesmo que mantenhamos uma atitude ereta na vida; caminhemos sempre dentro da linha (vendo a hora o trem pegar); mesmo que persigamos ideais transcendentes que orientem nossas ações cotidianas, voltadas para o Bem, para o máximo de harmonia, universalidade, excelência ou perfectibilidade, o que naturalmente implica a negação de paixões e de desejos irrefletidos, nós somos responsáveis pela mutilação deste estado de coisas, e promovemos situações de risco para toda a comunidade, já que permitimos em que os oligarcas produzam um Rio Grande do Norte aleijado, e façam do nosso povo uma população tosca e deformada.
Deformação e risco estes que poderão se virar contra nós, numa eventual situação de assalto, em bancos, em lojas, na escola, em qualquer lugar, pois não temos segurança em parte alguma (veja a Polícia em greve por melhores salários); numa emboscada nas ruas (ruas que estão completamente vazias, escuras, mal-tratadas, já que o povo corre para se refugiar em casa tão logo o comércio baixa as portas; risco que corremos de ser atacados por nossos irmãozinhos deformados moralmente pelas oligarquias, bastando a gente ir na esquina buscar o pão e o leite (pois muitos de nós ainda não caíram para o regime de pão e água) na padaria.
Tudo isso acontece como resultado de uma visão estrábica da parte das elites que comandam este triste espetáculo, pois é como se a classe política e empresarial (que vivem em comunhão de bens — bens públicos, bem entendido), ao olhar para o nosso povo, enquanto massa governada, visse apenas a borra, a cachorrada, a canalha, a choldra, a parvoíce, a basbaquice. Um povo incapaz de entender os rudimentos da República, como “forma de governo em que o Estado se constitui de modo a atender o interesse geral dos cidadãos”. Na verdade, o que se constata é que nosso povo se encontra, infelizmente, à merce de um Estado-carrasco, absolutamente corrupto, praticamente sem volta, e vivemos como no tempo da Casa Grande e Senzala.
Com efeito, não devemos demonizar apenas a administração zarolha do Casal Rosado (Rosalba e Carlos Augusto Rosado), com sua breguice na gestão do Estado, que termina sendo uma coisa torta, uma administração sem planejamento, sem jeito, malfeita, desajeitada, mas devemos temer o futuro, o além, aquilo que vem depois desse par de patacoada.
Pois, se depender das avaliações, dos prognósticos e das formatações que têm sido apresentadas, com o indicativo de nomes políticos como possíveis candidatos ao governo do Estado, até o momento, e tendo em vista a farra da troca-troca de partidos, as arrumações nos levam a crer que teremos continuidade do mesmo. E, assim sendo, triste de nosso futuro. Continuaremos com nossos canhestros governos de poucas pessoas, submetidos, num processo de servidão voluntária, aos mesmos pequenos grupos de pessoas de uma família, por sua vez aliados de grupos econômicos cafonas, já batidos, sob as bênçãos de partidos sobejamente conhecidos como congregações de predadores. Enfim, uma união de sujeitos de má-fama, pela vadiagem incrustrada no seu DNA, a defender, enquanto grupo, os interesses políticos e econômicos de seus “representantes” (aí, sim, a palavra certa, no lugar certo) assentados no poder que deveria ser público, e que prevalecem sobre os da maioria.

A perversidade com que são tratados os jovens pobres e favelados já era para ser, 
como fato isolado, uma sinalização de que esses grupos oligárquicos
não possuem boas intenções com os nossos eleitores. 
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A malignidade das oligarquias na promoção do genocídio dos jovens
Um fato que por si só torna-se extremamente eloquente, no sentido de denunciar publicamente a malignidade desses grupos que privatizaram o poder no Rio Grande do Norte, é o verdadeiro genocídio de nossa juventude pobre, instalada nas periferias. A perversidade com que são tratados os jovens pobres e favelados já era para ser, como fato isolado, uma sinalização de que esses grupos não possuem boas intenções com os nossos eleitores.
Trata-se apenas de um dado — não precisamos nem falar da falta de diligência em outros setores, da ausência de políticas públicas voltadas para a moradia do pobre, a educação, a saúde, o transporte, a cultura, o entretenimento, a segurança, as virações para se sobreviver em meio à selva vigente.
Natal (RN), considerado um novo polo de violência, é a capital, em todo o Brasil, que registrou o maior crescimento de homicídios de pessoas entre 15 e 24 anos – 267,3%.
A informação vem registrada no Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no Brasil, publicado no dia 18 de julho deste ano, pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), com dados do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
De acordo com o mapa, entre 1980 e 2011, as mortes não naturais e violentas de jovens – como acidentes, homicídio ou suicídio – cresceram 207,9%. “Se forem considerados só os homicídios, o aumento chega a 326,1%. Dos cerca de 34,5 milhões de pessoas entre 14 e 25 anos, em 2011, 73,2% morreram de forma violenta. Na década de 1980, o percentual era 52,9%.”
“Hoje, com grande pesar, vemos que os motivos ainda existem e subsistem, apesar de reconhecer os avanços realizados em diversas áreas. Contudo, são avanços ainda insuficientes diante da magnitude do problema”, conclui o estudo.
Segundo o mapa, o aumento da violência entre pessoas dessa faixa etária demonstra a omissão da sociedade e do Poder Público em relação aos jovens, especialmente os que moram nos chamados polos de concentração de mortes, no interior de estados mais desenvolvidos; em zonas periféricas, de fronteira e de turismo predatório; em áreas com domínio territorial de quadrilhas, milícias ou de tráfico de drogas; e no arco do desmatamento na Amazônia que envolve os estados do Acre, Amazonas, de Rondônia, Mato Grosso, do Pará, Tocantins e Maranhão.
De acordo com o estudo, a partir “do esquecimento e da omissão passa-se, de forma fácil, à condenação” o que representa “só um pequeno passo para a repressão e punição”.
O homicídio é a principal causa de mortes não naturais e violentas entre os jovens. A cada 100 mil jovens, 53,4 foram assassinados em 2011. Os crimes foram praticados contra pessoas entre 14 e 25 anos. Os acidentes com algum tipo de meio de transporte, como carros ou motos, foram responsáveis por 27,7 mortes no mesmo ano.
Se o estudo for aprofundado no Estado, como diz o mapa, o Rio Grande do Norte teve um aumento de 229,7% nesse tipo de crime, quando comparadas as estatísticas de 1.042 homicídios em 2011, enquanto 316 mortes foram computadas em 2001.
Em termos de crescimento, o ranking negativo coloca o Estado potiguar entre os 3 mais violentos em assassinatos, atrás de Bahia, líder, e Paraíba, em segundo. A região com os piores índices é a Centro-Oeste, com 69,8% das pessoas nessa faixa etária mortas por homicídio.
O autor do mapa, Julio Jacobo Waiselfisz, explicou à Agência Brasil que a transição da década de 1980 para a de 1990 causou mudanças no modelo de crescimento nacional, com uma descentralização econômica que não foi acompanhada pelo aparato estatal, especialmente o de segurança pública. O deslocamento dos interesses econômicos das grandes cidades para outros centros gerou a interiorização e a periferização da violência, áreas não preparadas para lidar com os problemas.
“O malandro não é otário, não vai atacar um banco bem protegido, no centro da cidade. Ele vai aonde a segurança está atrasada e deficiente, gerando um novo desenho da violência. Não foi uma migração meramente física, mas de estruturas”, destacou Waiselfisz.

O gestor municipal, para assegurar o direito à saúde 
de seus munícipes, deve assumir a responsabilidade pelos resultados
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“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.” (Eduardo Galeano).
Os que compõem a nossa classe política estão pouco se lixando para o futuro — já que não diz respeito a seus parentes, mas a jovens anônimos da periferia. Gente que só vai lhes interessar nas proximidades das eleições de 2014, quando eles descerem de seus carros blindados, devidamente recepcionados pelos cupinchas, cabos eleitorais (caça-votos), as ruas enlameadas e malcheirosas, os becos infectos e as praças de guerra das favelas, em especial no dia das eleições.
Os que foram cooptados ou os que vêem na política um meio de enriquecer com facilidade podem nos provar essa teoria do desamparo que é oferecido à patuléia. Quando vemos os gestores da coisa pública — prefeitos e governadores — como verdadeiros verdugos da população. Apenas um exemplo pode ser apresentado, dos mais singelos e pueris, e no entanto de uma importância capital na vida da família. Trata-se do descaso do chamado Poder Público pela área da saúde. Pelas diretrizes estabelecidas no Sistema Único de Saúde (SUS), os municípios são responsáveis pelo atendimento primário; o primeiro contato com o paciente do SUS.
De acordo com as diretivas do SUS, há uma responsabilização macrossanitária:
“O gestor municipal, para assegurar o direito à saúde de seus munícipes, deve assumir a responsabilidade pelos resultados, buscando reduzir os riscos, a mortalidade e as doenças evitáveis, a exemplo da mortalidade materna e infantil, da hanseníase e da tuberculose. Para isso, tem de se responsabilizar pela oferta de ações e serviços que promovam e protejam a saúde das pessoas, previnam as doenças e os agravos e recuperem os doentes. A atenção básica à saúde, por reunir esses três componentes, coloca-se como responsabilidade primeira e intransferível a todos os gestores. O cumprimento dessas responsabilidades exige que assumam as atribuições de gestão, incluindo:
• execução dos serviços públicos de responsabilidade municipal;
• destinação de recursos do orçamento municipal e utilização do conjunto de recursos da saúde, com base em prioridades definidas no Plano Municipal de Saúde;
• planejamento, organização, coordenação, controle e avaliação das ações e dos serviços de saúde sob gestão municipal; e
• participação no processo de integração ao SUS, em âmbito regional e estadual, para assegurar a seus cidadãos o acesso a serviços de maior complexidade, não disponíveis no município.”
Por seu turno, espera-se que o munícipe também intervenha. Como se dá a participação social na saúde?
“É uma das maneiras de se efetivar a democracia, por meio da inclusão de novos sujeitos sociais nos processos de gestão do SUS, como participantes ativos em debates, formulações e fiscalização das políticas desenvolvidas pela saúde pública brasileira, o que lhes confere legitimidade e transparência. O SUS deve identificar o usuário como membro de uma comunidade, com direitos e deveres, e não como recebedor passivo de benefícios do Estado.”
Por falarmos em SUS e saúde, falemos da sua saúde: Você é um bom partido? Uma boa reputação nos persegue. Antes de nós chegarmos, chega a nossa reputação. Deixe de ser frasqueiro, gambá, escoalha, escória, gentalha, gentinha. Cuide de sua reputação. Ela é seu patrimônio.
Paulo Augusto Queiroz da Silva >> Natal/RN, 29 de Setembro de 2013 >> jesuino21@yahoo.com.br

Uma breve história dos Estados Unidos

Esse excelente desenho retrata alguns interessantes aspectos da sociedade estadunidense, de forma critica e divertida. Abalada por uma séria crise econômica, os Estados Unidos, no século XXI, mostram as deficiências de seu modelo de desenvolvimento, rompendo com uma hegemonia de dominação predominante no século anterior. (Fonte: Uma breve história dos Estados Unidos)

O Rio Grande do Norte sem direitos

O Rio Grande do Norte sem direitos
 Paulo Augusto
Os governantes não dão escola e formação aos nossos concidadãos
(Foto)

É legal estudar Direito porque a gente descobre uma porção de coisas que não estão certas. E que continuarão erradas. Para a eternidade. Mas que não deveriam. De maneira alguma. Quando se estuda, primeiro, há aquela sensação de que estamos no mesmo patamar dos doutores-bestas. Dos bichões. Não dos sabichões. E dá aquele prazer de achar que podemos cutucá-los com vara curta. Sentimos o prazer (às vezes proibido) das crianças que, no zoológico, dão comida aos animais.
Depois, pode-se descobrir muitas das tramas que foram sutilmente montadas, penosamente engendradas, espertamente urdidas e tracejadas, através de pacientes e difíceis estratagemas, e que fogem à visão curta e estafada do povo, para manter-nos, a nós, os do andar de baixo, sob ferro e a pão e água. São muitas as artimanhas, incontáveis as chicanas e cavilações. Na verdade, no lugar da Constituição e das leis ordinárias, o que vale mesmo, no país real, são as tretas e tramóias. Temos provas incontáveis no dia-a-dia. Mas descobrir essa má-fé e esses expedientes por baixo de cada uma de nossas leis, leis que nos são apresentadas com tanto orgulho e arrogância, nos dói. Dói e machuca. Tortura.
Com efeito, sentados nos bancos escolares em que podemos pagar e sentar, pois não são da escola pública, que também pagamos com nossos impostos – em greve por salários e condições de trabalho –, descobrimos porque os governantes não dão escola e formação aos nossos concidadãos. Eles excluem a cultura, a formação, o letramento, pois, do contrário, essa sociedade, letrada, os jogaria na lata de lixo da história, ao invés de elegê-los.

BRASIL: luta para instituir um Estado Democrático de Direito, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos (Foto)


Senão, vejamos o que diz a voz do direito e olhemos para a nossa realidade, nua e crua, a fim de fazer a comparação.
Primeiro que, para botarem cada vírgula e cada ponto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, surgida de uma Assembléia Nacional Constituinte, cada um de nós, eleitores contribuímos votando num nome, portanto, estávamos lá representados. No Preâmbulo da CF 1988, muito galhardamente, como exige a ocasião, escreveu-se: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.”
Muito bem. Tudo muito luzidio. Agora, gostaria de compartilhar o Art. 5o, que é mais lindo ainda.
“Artigo 5º da Constituição Federal
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
“I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
“II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
“III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
“IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
“V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
“VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
“VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
“VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
“IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
“X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.”
Está bom. Transcrevemos até o inciso X, que é para não viciar. Lembra-nos o historiador e folclorista Câmara Cascudo que, numa situação desta, ele diria: “É mentira mas é gostoso.”
Pois voltaremos ao tema. Porque a gente termina considerando uma afronta tanto direito e tanta regra, tanto princípio e tanta norma. Tudo isto a fim de uma única coisa: alcançar uma qualidade de vida excelente para o povo brasileiro, para o norte-rio-grandense, quando nós sabemos o teor e o tom da vida que nos foi dada viver pelos nossos gestores públicos. Degradante e envergonhante. Quando acabar, está lá, com todas as letras. Com letras até demais. Pois quando elegemos alguém para que nos sirva de governante, acreditamos que ele administre a coisa pública com base em nossa Constituição. E não pensando em seus próprios interesses.
Pois como sabemos, assim que eles são eleitos, após toda a zoada da campanha e o cansaço que produziu em cima do eleitor, para fisgar-lhe o voto, eles – os políticos que conhecemos e em quem votamos – simplesmente apagam o interruptor denominado “eleitor–munícipe–contribuinte–cidadão”. E fica tudo no escuro de novo. Agora, somente daqui a quatro anos. Quando voltará toda a aporrinhação e os novos lances de compra-e-venda de votos.
Para criar esse clima de impunidade, convenhamos, existem alguns culpados, a partir do primeiro e principal: o eleitor. Mas esse quadro de suprema graça em que passa a viver o eleito – sem quaisquer planos ou projetos, a cuidar da próxima eleição e a fazer fortuna nas burras do Erário -, enquanto o povo se afunda nas agruras das carências e desesperanças, também pode ser creditado ao Judiciário, incluindo o Ministério Público, STF, OAB, ministério da Justiça e Polícias federal, militar e civil. Que faliram por completo.
Ao lado do Judiciário, caminha muda e surda a Universidade. E ao lado dos dois, segue a Mídia, envolvendo todos os seus tentáculos. Sobressaindo-se a ausência de um jornalismo investigativo. Conta ainda o fato de significativa fatia da imprensa televisiva, falada e escrita ser concessão feita pelo Estado (União) aos oligarcas. A imprensa também peca por ter muitos de seus principais nomes inscritos nas famosas listas de apaniguados, que recebem vultosos salários seja da Assembléia Legislativa, seja da Câmara Municipal. Este rabo preso, estes compromissos, impedem que se faça o verdadeiro jornalismo, as campanhas contra as mazelas que vemos se eternizarem no espectro político do nosso Estado.
Ao lado de todo esse desmantelo, juntemos a idade provecta da maior parte de nossos políticos ou a demasiada juventude de outros, filhos e netos daqueles. No último final de semana, em sua coluna no Jornal de Hoje, o colunista Danilo Sá escreveu, com o título “Carência de líderes”, um artigo esclarecedor, e companheiro na análise que faz, com as ideias que partilhamos acerca de nossos políticos. “Não está sendo à toa o flagrante declínio do Rio Grande do Norte nos mais variados setores da sociedade. Na segurança, os números da violência são alarmantes e impressionantes. Na saúde pública, há anos a situação se repete e se agrava, quase sem nenhum avanço. Já a educação, para ficar nos três pontos principais, acumula sucessivos índices negativos de qualidade em comparação ao restante do país”, escreveu Danilo Sá, acrescentando:

Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão (1872 — 1944)
(Foto)

“A realidade potiguar nada mais é do que resultado da total carência de grandes líderes. E não falo aqui dos campeões de votos, homens e mulheres capazes de angariar apoios pelo bom discurso e pelo convencimento. Refiro-me às lideranças com condições de trazer grandes investimentos, de criar bons projetos, de marcar seus nomes numa história de grandes administradores. De Alberto Maranhão a Aluizio Alves, o RN sempre viveu altos e baixos na sua classe política. Mas, de tempos em tempos, encontrava sempre grandes nomes para recuperar o tempo perdido. Os dois nomes citados, inclusive, são exemplos de governadores com mais resultados do que muitos antecessores juntos. Mas, nas últimas décadas, o Estado parece fadado a permanente falência”, completa.
Danilo cita o governador Alberto Maranhão (Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão (Macaíba, 2 de outubro de 1872 — Angra dos Reis, 1 de fevereiro de 1944), rebento da primeira e mais poderosa oligarquia surgida na República Velha – da família Albuquerque Maranhão –, governador do Rio Grande do Norte de 1900 a 1904, exerceu também um segundo mandato de governador entre os anos de 1908 a 1914, tendo sido, ainda, deputado federal, no período de 1927 a 1929), que diz ter sido “fundador de hospitais, construtor de estradas e responsável pela chegada da luz elétrica nas residências potiguares. Da mesma forma foi Aluizio” – continua –, “para ficar nos dois nomes citados, com sua dedicação a levar energia para todo o interior do Estado, implantou o sistema de telecomunicações no RN e ainda investiu, pela primeira vez, no turismo, com a construção do Hotel Reis Magos.” Aluízio Alves (Angicos, 11 de agosto de 1921 — Natal, 6 de maio de 2006) fundou a segunda mais poderosa oligarquia na política potiguar – a Família Alves –, de cujos frutos estamos todos e estaremos ainda durante muito tempo – desafortunadamente – sob o jugo.
Temos, sim, muitos carreiristas, pessoas que real e efetivamente não somam nem correspondem aos anseios da nossa sociedade. Sociedade que — canhes-tramente – por falta de educação e de conselhos – continuará a dar seus votos de forma errada. Sem conhecer os mínimos rudimentos do direito. Direitos? Coisa que nunca será para o seu bico...
Paulo Augusto Queiroz da Silva >> Natal/RN, 25 de agosto de 2013 >> jesuino21@yahoo.com.br